Dois problemas de saúde säo analisados nesta tese:

a esquistossomose e o "problema de nervos", tendo o segundo se tornado objeto de estudo devido ao encontro de altos índices de consumo de psicotrópicos na área endêmica de esquistossomose onde trabalhávamos. O estudo das representaçoes sociais da esquistossomose revela um conjunto de percepçoes mistificadas e ideologizadas. O estudo dos depoimentos sobre "nervos" revelou o processo de medicalizaçäo, desviando a atençäo de graves problemas sociais geradores da experiência da angústia. Conclui que a fabricaçäo das categorias emicas "caramujo" e "nervos" na mente popular tem pontos comuns, uma vez que ambas säo objeto de práticas terapêuticas alheias ao saber popular e refletem muito bem o processo de alienaçäo entre mente e corpo, entre conhecimentos e práticas, que se consolida em remotas comunidades rurais, onde o bom senso e as práticas de saúde tradicionais väo sendo desenraizadas e gradualmente banidas, para dar lugar a uma visäo hegemônica, nas sociedades modernas, da saúde como sendo "um bem a ser consumido". O tema das interaçoes entre profissionais de súde e populaçäo é também analisado aqui em suas implicaçoes e consequências nas práticas de educaçäo, de atendimento médico e nos programas de controle de endemias.