Realizou-se um estudo clínico-epidemiológico envolvendo 471 escolares de 7 a 14 anos de idade do Município de Rio Acima - Regiäo Metropolitana de Belo Horizonte, com o objetivo de se avaliar parâmetros clínicos, oftalmológicos, laboratoriais e epidemiológicos correlacionados com a toxocaríase. Procurou-se estabelecer associaçöes entre essas variáveis e a soropositividade para Toxocara canis, determinando-se os fatores de risco envolvidos na doença. Foi, ainda, avaliada a saúde oftalmológica dessa populaçäo e a prevalência de sorologia positiva para toxoplasmose. O nível de significância adotado foi de 0,05 para os testes estatísticos efetuados. A prevalência de soropositividade para toxocaríase foi determinada em 300 dessas crianças pelo método de ELISA, tendo sido encontrada uma taxa de 7,0 por cento, considerando-se positivos os títulos de anticorpos (IgG) maiores ou iguais a 1:20. A soropositividade se associou significativamente ao contato extradomiciliar recente com filhotes de cäo (p= 0,025, OR = 2,89), à residência em zona urbana central (p= 0,023, OR = 2,83) e ao trabalho extradomiciliar da mäe (p= 0,001, OR = 4,83). Essas associaçöes foram confirmadas por análise de regressäo logística multivariada. Encontrou-se também associaçäo significativa entre a soropositividade e o contato com águas naturais (p= 0,003) mas, como essa variável também estava associada ao contato extradomiciliar recente com filhotes de cäo (p= 0,004) e ao trabalho extradomiciliar da mäe (p=0,003), näo pôde ser considerada fator de risco para a toxocaríase. O mesmo aconteceu em relaçäo ao contato extradomiciliar recente com filhote de gato, que embora tenha se associado à positividade para toxocaríase (p= 0,014), também se associou ao contato extradomiciliar recente com filhotes de cäo (p=0,004). A soropositividade também se associou ao maior nível de escolaridade materna (p= 0,008), mas essa variável também estava associada ao trabalho extradomiciliar da mäe (p= 0,003), näo podendo ser considerada fator de risco para a toxocaríase. Näo foi observada associaçäo significativa entre a sorologia para toxocaríase e o sexo, idade, cor das crianças e as variáveis indicativas de nível socioeconômico (presença de água encanada, rede de esgoto, luz elétrica e número de bens de consumo no domicílio). A presença de cäo adulto ou filhote no domicílio também näo se associou à soropositividade. Essa associaçäo também näo foi encontrada em relaçäo à presença de gato no domicílio. Outra variável que também näo se associou à sorologia positiva para toxocaríase foi o relato de contato com terra e/ou geofagia atual ou pregressa. Também näo se observou associaçäo significativa entre a sorologia para toxocaríase e o relato de quadro clínico compatível com larva migrans visceral no ano anterior à pesquisa, nem com as alteraçöes clínicas ou laboratoriais encontradas (hepatomegalia, esplenomegalia, palidez cutânea, leucocitose, eosinofilia e ascaridíase intestinal). A prevalência de sorologia positiva para Toxoplasma gondii entre as 300 crianças estudadas, pelo método de imunofluorescência indireta, foi de 56 por cento considerando-se positivos os títulos de IgG iguais ou maiores do que 1:16. O exame oftalmológico, realizado nas 471 crianças e constituído de medida da acuidade visual monocular, "cover test", inspeçäo do segmento anterior dos olhos e das pálpebras, tonometria e oftalmoscopia binocular indireta, detectou baixa acuidade visual em 2,5 por cento das crianças, estrabismos em 1,5 por cento, alteraçöes fundoscópicas responsáveis por diminuiçäo da acuidade visual em 0,6 por cento, catarata congênita em 0,4 por cento. Näo foram encontrados sinais oftalmológicos compatíveis com as formas conhecidas de toxocaríase ocular entre os 471 escolares examinados.