Trabalho materno e ganho de peso infantil
Publication year: 1995
A hipótese básica deste estudo era que o trabalho materno em populaçöes operárias da cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul, é um importante determinante do ganho de peso em criança menores de seis anos de idade. A associaçäo entre trabalho materno e ganho de peso infantil foi investigada com dados provenientes de uma coorte de 334 crianças menores de 6 anos de dois bairros operários da cidade de Pelotas, acompanhados em 3 momentos, durante 6 meses. O trabalho, materno foi caracterizado através de um escore, indicando o número de vezes que a mäe realizou atividade remunerada no período. Obteve-se 4 grupos de comparaçäo: grupo 0 - mäes com trabalho exclusivamente näo remunerado em todo os acompanhamentos (donas de casa) e grupos 1,2,3 - mäes com trabalho remunerado, respectivamente em 1, 2 e 3 acompanhamentos. Considerou-se o trabalho materno uma estratégia familiar, de reproduçäo e o ganho de peso infantil um indicador positivo de saúde capaz de revelar a aquisiçäo de potencialidades vitais ou reprodutivas pelo grupo familiar. Ao final do acompanhamento, o ganho médio de peso foi de 1080 gramas, variando de 857 gramas no grupo 0 a 1282 gramas no grupo 3 (p<0,001), mostrando uma tendência linear fortemente significativa (p<0,001). Além disso, o trabalho materno esteve associado à disponibilidade de bens de consumo duráveis e à participaçäo da mäe na alimentaçäo dos filhos, que por sua vez associaram-se ao ganho de peso infantil. Embora associadas ao trabalho materno, o uso de creche, as características domiciliares e a participaçäo da mäe na chefia da família näo se associaram ao ganho de peso. A partir de um modelo teórico hierarquizado, submeteu-se à regressäo linear múltipla todas as variáveis associadas ao trabalho materno e ao ganho de peso infantil. A análise miltivariada, aumentou a força da associaçäo entre trabalho materno e ganho de peso infantil. Frente aos aspectos estruturais e conjunturais da reproduçäo da classe operária, conclui-se que a maior e mais permanente inserçäo materna no trabalho remunerado garante um maior ganho de peso infantil e assim, melhores condiçöes nutricionais e de saúde para seus filhos, do que o trabalho domicilar exclusivo, no qual a mäe dedica mais tempo aos cuidados da prole. Os achados do estudo apontam a necessidade de que se estabeleçam políticas públicas de fortalecimento das oportunidades de trabalho materno e de desenvolvimento de programas e serviços adequados ao cuidado infantil. Açöes de reforço da participaçäo paterna nos cuidados infantis também säo importantes, já que facilitam a inserçäo da mäe em atividades remuneradas.