Do poder pastoral ao cuidado de si: a governabilidade na enfermagem
Publication year: 1997
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade Federal de Santa Catarina. Departamento de Enfermagem to obtain the academic title of Doutor. Leader:
A presente tese, fundamenta em Foucault, pretende trazer respostas a como se dá a governabilidade na enfermagem, focalizando, especificamente, as fronteiras entre o cuidado de si, como tecnologia do eu própria do pensamento grego e o poder pastoral. O percurso metodológico construiu-se, paralelamente, em dois eixos de análise: pela realizaçäo de uma cartografia das relaçöes de força, buscando entender as estratégias e lutas mediante as quais saberes, sujeitos e práticas têm se construído; e pelo delineamento de técnicas que possibilitam a ampliaçäo dos espaços de autonomia do cliente e da enfermagem, na perseguiçäo de um agir ético, entendido como a açäo resultante da decisäo e vontade autônomas. A cartografia realizou-se por dois caminhos diferenciados, enfocando a ruptura do modelo religioso com Florence Nightingale e do pensamento religioso na produçäo da Revista Brasileira de Enfermagem, de 1980 a 1995, demonstrando, através da análise do discurso, que onde se apontam rupturas, constata-se sobrevivência dessas estratégias de poder que Foucault identifica como "poder pastoral". A perspectiva desta análise de poder apresenta-se como o governo dos outros, focalizando, dentre outros, a saúde das pessoas como responsabilidade da enfermagem e o cliente, aparentemente, destinado a ocupar o lugar de objeto do cuidado. A perspectiva de análise ética aborda o cuidado de si como uma preocupaçäo ética e o auto-cuidado é pensado como cuidado de si e como objetivo da assistência de enfermagem, possibilitando o exercício de autonomia do cliente, sujeito e fim da saúde. O trabalho identifica, nas práticas da enfermagem, a responsabilidade, a obediência, a confissäo e a mortificaçäo do eu como elementos próprios do poder pastoral, e as tecnologias de cuidado de si, assim como possibilidades de mudança na forma de ser e de fazer enfermagem.