Vida e trabalho de adolescentes no narcotráfico numa favela do Rio de Janeiro

Publication year: 1998
Theses and dissertations in Portugués presented to the Escola Nacional de Saúde Pública to obtain the academic title of Mestre. Leader:

Remete à dura realidade de milhares de crianças e adolescentes que encontram-se em situaçäo de miserabilidade, no cenário urbano da cidade do Rio de Janeiro. Numa combinaçäo perversa entre miséria e populaçäo infanto-juvenil surgem novas formas de organizaçäo de trabalho que colocam este grupo populacional em máxima vulnerabilidade social. A inserçäo de crianças e adolescentes no narcotráfico vem ganhando forte expressäo e já disputa um espaço significativo no ranking do mercado informal de trabalho, além de ser responsável pelos altos índices de violência e homicídios. No intuito de obter melhor conhecimento das práticas de vida e trabalho dos adolescentes neste contexto, foi realizado este estudo de cunho qualitativo numa favela - Complexo di Kizomba - localizada no Município da cidade do Rio de Janeiro. Verificou-se que dos 2665 adolescentes, moradores dessa favela, com faixa etária entre 10 e 19 anos, aproximadamente 7,5 por cento estäo diretamente envolvidos no tráfico de drogas e 16,8 por cento atuam indiretamente, realizando pequenas tarefas, perfazendo um total de 24,3 por cento adolescentes trabalhadores neste tipo de mercado, sendo em sua maioria do sexo masculino. Durante os anos de 1996 e 1997 ocorreram 90 mortes, representando 13,8 por cento homicídio de adolescentes envolvidos no tráfico. No entanto, os episódios de mortes näo impedem a entrada de outros jovens neste rentável negócio, que em cenas invisíveis aos olhos da sociedade, contribui com o extermínio de jovens em áreas urbanas empobrecidas. Conclui que o mundo do crime é representado no imaginário desses jovens numa oscilaçäo entre o mundo real (a imagem de ser negro, pobre e favelado - baixo status social) e o abstrato/fantasia (a figura de herói, de guerreiro e de poder econômico - alto status social). Onde as concepçöes de saúde e trabalho säo manifestaçöes de poder do narcotráfico. Pouco tem sido feito para reverter este quadro que hoje é reconhecido pela saúde pública como um fenômeno que merece atençäo da sociedade e de cientistas sociais. Tais estudos tornam-se de grande valor, no sentido de fornecer subsídios para uma açäo política que ultrapasse o mero interesse acadêmico e que possa criar estratégias viáveis de intervençäo.

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