Trata-se de um estudo sobre mecanismos e determinantes de mudanças na cultura alimentar urbana, imprimidas pela relaçäo entre alimentaçäo e saúde. Abordadas a partir de duas perspectivas - mudanças de caráter voluntário, mediadas por aspectos sócio culturais e psicológicos em sujeitos submetidos a prescriçäo dietética, e estruturais, conseqüentes ao cenário econômico e sócio-cultural - as mudanças na alimentaçäo foram investigadas através de pesquisa qualitativa com 30 indivíduos hipertensos, pertencentes a segmentos sociais diferenciados e de fontes secundárias referentes ao consumo e produçäo de alimentos. As mudanças alimentares por imposiçäo terapêutica näo se apresentaram como cumprimento de uma prescriçäo; esta desencadeou ajustes atenuando aspectos restritivos, preservando situaçöes de sociabilidade envolvidas com a comida e o paladar. A adequaçäo entre tais ajustes e prescriçöes propostas relacionou-se à intensidade de sensibilizaçäo provocada pelo risco ao qual o sujeito considerou-se exposto. A condiçäo sócio econômica marcou diferenças principalmente no consumo de alimentos "invisíveis" (açúcar, óleo e sal) e na relaçäo com o corpo. No que tange às mudanças alimentares estruturais, observou-se a influência da renda e do tempo nas escolhas alimentares; plasticidade para adoçäo de novas práticas em detrimento da alimentaçäo mais estruturada; e tendências em direçäo à homogeneidade no consumo alimentar manifestadas através do crescimento no consumo de industrializados e decréscimo no de produtos básicos da alimentaçäo brasileira