A ambigüidade de uma profissão: o sofrimento psíquico na enfermagem
Publication year: 1998
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade Federal de Säo Paulo. Escola Paulista de Medicina. Departamento de Enfermagem to obtain the academic title of Mestre. Leader:
Os fatores apresentados pelas(os) enfermeiras(os) como desencadeantes de mal-estar no trabalho encontram-se distantes do pressuposto inicial deste trabalho. O contato com pacientes graves geralmente próximos à morte nao foi colocado como motivo de sofrimento pelas(os) profissionais entrevistadas(os), como pensávamos. Ao entrar em contato com os pacientes que exigem cuidados técnicos especializadas, obviamente envolvendo maior qualificaçao profissional, a(o) enfermeira(o) encontra sua razao de ser como profisssionai. É assim que a significaçao do fazer se constrói numa relaçao de satisfaçao e de troca do sujeito, a(o) enfermeira(o), com o objeto de seu trabalho: o cuidar. O desempenho de atividades junto à dor e ao sofrimento do outro nao evoca necessariamente na(o) profissional o sofrimento mas, de forma aparentemente paradoxal, confrontam-na(o) com o desafio de colocar em prática a relaçao enriquecedora e envolvente do binômio ser humano/ trabalho. Nessa troca, o paciente recebe o cuidado, resultado de uma qualificaçao profissional. O cuidado profissional pode ser diferenciado do que é considerado cuidado doméstico, nao porque o primeiro seja melhor do que o segundo, mas porque, sem dúvida, cada um guarda necessariamente seu próprio espaço. Nessa perspectiva, em sua prática diária, a(o) enfermeira(o) pode perceber esta diferença e sentir que é uma(um) agente devidamente preparada(o) para desempenhar aquilo que é motivo de sua existência profissional. Se o contato direto com o paciente é o que permite à(ao) enfermeira(o) a construçao de uma imagem positiva do seu trabalho, é no exercício da prática profissional do cuidar que está a possibilidade de se distanciar do estereótipo sobre o cuidado como extensao de uma atividade doméstica. É entao delimitando claramente a enfermagem como prática profissional do cuidar que surge a possibilidade de suprimir a ambigüidade da profissao e com isto, diminuir o sofrimento no trabalho. Isto significa estabelecer um campo de atuaçao em que a aproximaçao constante da(o) enfermeira(o) com seu paciente possa evitar o sofrimento devido à quebra do significado da relaçao sujeito/tarefa primária, Como parte da mesma ambigüidade, pode-se dizer que a pouca clareza da tarefa primária no desempenho profissional tem raizes já na formaçao da(o) enfermeira(o). Ainda que, nesta formaçao o cuidado seja definido como tarefa primaria, a identificaçao do cuidar como qualidade moral e valor religioso e a ...(au)