Violência no cotidiano dos serviços de emergência: representaçöes, práticas, interaçöes e desafios
Publication year: 2000
Theses and dissertations in Portugués presented to the Escola Nacional de Saúde Pública to obtain the academic title of Doutor. Leader:
Analisa a interferência cotidiana da violência na dinâmica organizacional dos serviços de saúde, nas representaçöes e práticas dos seus agentes. Os serviços de emergência foram escolhidos porque neles a violência adquire visibilidade e constância, misturando-se ao próprio processo de trabalho e à s distintas interaçöes entre profissionais e clientela. O objetivo central foi o de apreender, numa perspectiva compreensiva, o significado e as várias faces que a violência adquire nas múltiplas redes (de trabalho, de poder, ético-morais, organizativas) que se constituem e se reproduzem no cotidiano da assistência. Realizamos uma associaçäo de diferentes abordagens (quantitativa e qualitativa) e técnicas (observaçäo participante, entrevistas e aplicaçäo de quetionários), o que possibilitou tanto identificar as concepçöes, valores, práticas, formas de interaçäo grupais como indicar suas denominadas "áreas internas". A etnografia foi o caminho metodológico capaz de totalizar esses múltiplos esforços. A violência no cotidiano dos serviços de emergência assume múltiplas formas, como: condiçöes vis de atendimento oferecidas à populaçäo; um modelo de atendimento que despersonaliza, ignora e coisifica o usuário; um processo de trabalho que impöe doses consideráveis de sofrimento aos seus trabalhadores; uma demanda de atendimento que, pela gravidade das lesöes, vai significar um desafio técnico, uma possibilidade de avanço do conhecimento; uma forma de interaçäo entre profissionais e clientela, quando estes se tornam oponentes, algumas vezes chegando ao confronto corporal; reproduçäo de preconceitos e estigmas sociais que serviräo, muitas vezes, de critérios seletivos para a qualidade da atençäo dispensada; omissäo de apoio à s vÃtimas da violência que, sabidamente, estaräo novamente à mercê das mesmas agressöes. Buscamos nas consideraçöes finais adotar uma perspectiva propositiva, revendo os limites de nosso estudo e propondo novas indagaçöes.