Avaliaçao da qualidade da assistencia perinatal: um exercicio
Publication year: 1993
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Medicina Social to obtain the academic title of Mestre. Leader:
A relação da qualidade da prática médica assistencial com os indicadores de saúde tem sido objeto de controvérsia. A possibilidade de avaliar o estado de saúde do recém-nascido em função do cuidado recebido facilita o estudo desta relação, principalmente, na área perinatal, onde a expectativa é o nascimento de um bebê saudável ao final de uma gestaçao sem fatores de risco, acompanhada segundo as normas obstétricas vigentes. Neste estudo, examina-se a adequação do acompanhamento do trabalho de parto em uma maternidade pública do Estado do Rio de Janeiro, sob a ótica da avaliação de qualidade, pela abordagem de processos e resultados, através de critérios explícitos, supondo que os fatores selecionados como componentes do processo de assistência ao trabalho de parto determinariam o resultado. Observa-se tais relações através da metodologia epidemiológica, optando por um estudo caso-referente ou um estudo "caso-controle", com definição primária da base. Selecionou-se como determinantes da qualidade da prática obstétrica intraparto, duração do trabalho de parto, percepção de alterações durante o trabalho de parto, prontidão para intervenção, número de exames realizados e intervalo entre o último exame e hora do parto. O resultado neonatal adverso caracterizou-se por óbito intra-utero, óbito neonatal e presença de um conjunto de sinais clínicos anormais no período neonatal imediato, com alto valor preditivo para o futuro dano neurológico. O risco de um resultado adverso foi estimado pela razão dos produtos cruzados "odds ratio"(OR) numa população de 34 casos e 124 controles. A duração do trabalho de parto maior que doze horas esteve associada a um OR igual a 3,48 (1,28-9,43). Idade da gestante, dilatação cervical do colo uterino à admissão de peso ao nascer modificaram o efeito desta associação, que também foi confundida pela paridade e pelo uso da ocitocina. Contrariando a hipótese inicial, a percepção de alterações resultou num OR=14,73 (4,24-54,27) e, à medida que o tempo de intervenção se prolongava, os riscos aumentavam obedecendo a uma tendência linear. Discutem-se as dificuldades de aplicação da metodologia epidemiológica ao campo da avaliação da qualidade, essencialmente no que se refere às exigências quantitativas, para garantir precisão e confiabilidade. A observação da interação e o controle do confundimento apontam o cuidado necessário nos trabalhos desta natureza para alcançar consistência e validade.