Realiza uma revisäo bibliográfica das idéias de Henri Atlan - pesquisador da outo-organizaçäo e filósofo da ética da biologia - no que estas interessam ao questionamento do modelo de risco epidemiológico em promoçäo e educaçäo em saúde, evidenciando suas imprecisöes e utilizaçäo inadequada. Detalha-se a concepçäo atlaniana de "intercrítica", para através dela expor as mútiplas implicaçöes da reduçäo da possibilidade humana a uma formulaçäo científica probalística no modelo de risco. Atlan propöe uma distinçäo teórica e dinamizaçäo intercrítica entre a "racionalidade científica" que pesquisaria, pelas vertentes da investigaçäo/discurso científicos, os fatores de risco e a "racionalidade mítica" sede da ética, que norteia os valores que moldam as atitudes humanas como estratégia para aumentar a eficácia de programas que precisam das diferentes contribuiçöes das duas ordens de conhecimento/experiência, como aqueles da saúde pública. Enfatiza os danos decorrentes da mistura de racionalidades na informaçäo sobre a saúde, tais como recomendar estilos de vida a partir de duvidosas "previsöes probabilísticas", que estariam tomando o lugar, equivocadamente, de respostas a necessidades míticas - como as de suprir de significado as escolhas acerca de sua vida - inseridas no comportamento de indivíduos/grupos sociais. Esta dissertação oferece para a saúde pública (especialmente para a promoçäo e educaçäo em saúde) fundamentos teóricos para uma hipótese de entendimento dos processos do adoecer que, sem negligenciar a importância dos fatores de risco, valorize o desenvolvimento da autonomia individual e da responsabilidade social, qualidades éticas essenciais para a tomada de decisöes corretas quanto à própria saúde e à alheia. Para tal, o conceito de qualidade de vida será reformulado através das interpretaçöes de Atlan ao teorema von Foerster-Dupuy e de sua análise das idéias de Espinoza, nas fronteiras entre ética e filosofia.