Extremos da alma: dor e trauma na atualidade e clínica psicanalítica
Publication year: 2002
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Medicina Social to obtain the academic title of Doutor. Leader:
A demanda clínica psicanalítica se caracteriza, na atualidade, por uma abundância do que se convencionou chamar "casos difíceis". O objetivo deste trabalho é desenvolver uma reflexão sensível a esse cenário sobre os processos de transformação subjetiva no percurso analítico. Ressalta-se que a sintomatologia manifesta em tais casos se erige quando o sujeito se vê ameaçado em sua integridade narcísica, o que aponta para uma relação de proximidade com as neuroses traumáticas, assim como descritas por Freud e Ferenczi. Considerando-se que a clínica psicanalítica estabelece com a cultura uma relação orgânica, delimita-se o que, na ordem da cultura, estaria promovendo um incremento dessas configurações psíquicas. Na primeira parte da tese, analisa-se a contemporaneidade, a partir dos trabalhos de Latour e Bauman, como um momento de "rasgo teórico", no qual se encontra em curso uma crise do paradigma que regeu a modernidade - um momento traumático por excelência. Uma vez caracterizada a configuração traumática na contemporaneidade, a segunda parte da tese volta-se para uma análise metapsicológica da experiência traumática. Compreendida como irupção pulsional excessiva, a experiência traumática pode ter destinos subjetivantes e dessubjetivantes, ocupando um lugar central nos modos de subjetivação. Para o entendimento de sua dimensão subjetivante é construída, a partir dos estudos de Freud, Ferenczi, Birman, Dolto, Gil e Stern, a noção de campo de afetação: espaço afetivo existente entre sujeitos e mundo, fundamental para a criação e apreensão de sentidos. Nessa construção, valorizam-se os conceitos do eu real originário, introjeção, pequenas percepções, afetos de vitalidade, signos de percepção, impressão e traço psíquico. Para uma compreensão dos aspectos patogênicos das vivências traumáticas, é destacado como agente deflagador a impossibilidade de instauração de uma rede positiva de afetação intersubjetiva. Analisa-se a importância dos mecanismos psíquicos de recusa, incorporação e clivagem narcísica na sintomatologia apresentada. A seguir, utilizando-se como referência teórica o domínio das afetações traumáticas, propõe-se uma reflexão sobre a situação analítica na qual se positivam os processos de repetição na transferência como lócus privilegiado para fazer mover a engrenagem traumática patogênica.