A junção das temáticas aborto e toxicomania surgiu a partir dos relatos das mães de dependentes de drogas, atendidas em ambulatório que oferece tratamento a toxicômanos e familiares. Este trabalho apresenta seis relatos nos quais eles explicam seu profundo sentimento de culpa com relação ao sintoma dorgadictivo dos filhos. Elas justificam isso pelo fato de terem tentado abortar, quando grávidas deles, ou de não os terem desejado: assim, estabelecem relação causal entre tentativa de aborto e toxicomania. O trabalho mostra que a junção das temáticas, ao serem vivenciadas, aumenta o sofrimento dessas mulheres. Esses seis relatos são representativos da maioria das mulheres atendidas, que os repetem com freqüência durante as consultas: este trabalho mostra que não se trata de vivências isoladas, individuais, mas de sentimentos comuns a muitas mulheres. Então o tema da maternidade também insere-se na construção do problema. Após apresentação do contexto institucional, teórico e clínico de onde surgiram os dados, o trabalho apresenta e discute aspectos análogos dos temas aborto e toxicomania: aponta, entre outros, a ilegitimidade de ambas práticas por constituir-se como fator importante que aprofunda o sofrimento dos sujeitos envolvidos. Apresenta, ainda, o tema da maternidade destacando que a inserção social da mulher, até hoje, se dá numa dinâmica onde a dominação masculina prevalece: não se trata de uma situação natural mas construída na cultura ao longo da história. Aponta o sentimento de culpa como fator que contribui com a perpetuação da dominação considerada "habitus".

O trabalho pretende mostrar:

que o sentimento de culpa que cada uma delas, individualmente diz sentir,é decorrente dos temas drogas e aborto serem alvo de projeções sociais e práticas ilegítimas bem como da função materna ser, ao longo da história, construída como responsável (e culpada) pelos males acometidos aos filhos e realizados por eles. Aponta a necessidade de continuar a pesquisa e a importância de dar voz a essas mulheres