As doenças cardiovasculares (DCV) representam a principal causa de mortalidade. Trabalhos têm demonstrado altas prevalências de fatores de risco para DCV, como por ex., a hipertensão arterial sistêmica (HAS), em algumas categorias profissionais. Uma atividade que pode estar associada a uma maior prevalência de HAS é a soldagem, em conseqüência aos diversos agentes físicos e químicos a que os soldadores são comumente expostos. Destacamos os elevados níveis de pressão sonora e temperatura e os fumos metálicos, que podem conter elementos químicos como chumbo e cádmio. Além desses, a carga total de trabalho, a monotonia, o baixo estímulo e a ausência de controle por parte do trabalhador, também pode estar associada às DCV. Utilizamos as informações obtidas nos exames médicos ocupacionais a que foram submetidos os empregados de uma indústria de caldeiraria pesada durante um ano. Na primeira parte avaliamos os fatores de risco para DCV em 207 trabalhadores, do sexo masculino, com idades entre 35 e 64 anos. Encontramos elevada prevalência de HAS (36,7 por cento), e uma prevalência de tabagismo mais baixa que a esperada (26,6 por cento). 73,5 por cento da população estudada apresentou, pelo menos, um dos três principais fatores de risco para DCV conhecidos (HAS, tabagismo e hipercolesterolemia), demonstrando a importância desses fatores e a necessidade da implementação de campanhas preventivas nas empresas. Na segunda parte, avaliamos a possível relação entre a atividade de soldagem e HAS. Os soldadores apresentaram maior chance de serem portadores de HAS do que os outros trabalhadores. Concluímos que há indícios de associação entre a atividade de soldagem e HAS e que novas avaliações das condições ambientais e das condições de saúde dos soldadores devem ser realizadas em populações maiores. Os exames médicos ocupacionais foram realizados de acordo com o estabelecido pela legislação trabalhista brasileira e os exames complementares já eram efetuados de forma rotineira pela empresa. A análise dos dados coletados foi feita através do EPIINFO. Demonstramos que o serviço médico de uma empresa pode analisar, com recursos próprios, os dados coletados na atividade diária. O que é importante tanto para a avaliação da saúde dos trabalhadores e posterior elaboração de campanhas de prevenção na empresa, como para a produção de estudos científicos, que podem trazer contribuições para a compreensão da relação entre o trabalho e a saúde.