Individualização e vínculo familiar em camadas médias: um olhar através da gravidez na adolescência
Publication year: 2003
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Medicina Social to obtain the academic title of Doutor. Leader:
A tese propõe uma interpretação alternativa ao tema da gravidez na adolescência, tradicionalmente contemplado, no Brasil, a partir do universo simbólico e material das camadas trabalhadoras. A realização de um estudo empírico junto a famílias dos segmentos médios, da cidade do Rio de Janeiro, cujos filhos permaneciam solteiros e residindo com os pais, permitiu configurá-la como um evento contingente ao processo de autonomização juvenil. O prisma analítico adotado privilegia a socialização familiar, a qual adquire contornos peculiares na contemporaneidade. A extensão da escolarização e as dificuldades de inserção no mercado de trabalho acentuam a dependência dos jovens em relação aos pais. No entanto, o alongamento da dependência familiar não se torna um impeditivo ao exercício da autonomia nessa fase da vida, na qual a sexualidade tem grande relevância. Focalizam-se os efeitos do processo social de individualização na transformação das relações familiares, em especial, nas relações intergeracionais. O relacionamento entre pais e filhos jovens é, assim, presidido por uma tensão entre autonomia (autodeterminação juvenil) e heteronomia (afirmação dos valores parentais), diante do desafio de produzir uma "pessoa individualizada". Essa ordenação peculiar do percurso de transição à vida adulta engendra novo olhar aos fenômenos comumente associados à juventude, tomados como "problemas sociais". A análise dos dados empíricos acompanha o contraste entre gerações (pais e filhos jovens), gêneros (rapazes e moças) e relações de parentesco: consangüíneo ou por afinidade. Abordam-se a iniciação sexual e afetiva destes jovens, a gravidez e seus desdobramentos familiares, as mudanças na interação e funcionamento domésticos e as avaliações geracionais sobre o fenômeno em exame. Os jovens integram a parentalidade na adolescência ao processo de "crescimento pessoal" (construção de si), favorecidos pelo apoio parental que preserva a individualização dos filhos. Os pais, por sua vez, interpretam o evento de um prisma diferente, evidenciando os significados que ele condensa para o grupo familiar.