Depressão e criatividade na contemporaneidade: um estudo a partir de Freud e Winnicott
Publication year: 2003
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Instituto de Medicina Social to obtain the academic title of Doutor. Leader:
Este trabalho parte da constatação de um estilo de ser depressivo na contemporancidade que, por sua vez, aponta para uma dificuldade na constituição de sujeitos capazes de criar sentidos para a vida. Por que hoie, numa sociedade que, ao menos aparentemente, proporciona mais liberdade para o desenvolvimento da individualidade, muitos se vêem apáticos, fatigados? O estudo discute a hipótese levantada por Ehrenberg, segundo a qual a alteração no entendimento da psiquiatria sobre as depressões está ligada a uma mudança na experiência coletiva das pessoas que, primeiramente, eram capturadas tanto pelo assujeitamento disciplinar quanto pelo conflito, e que agora se vêem às voltas com a questão da responsabilidade e da ação. Trabalhando mais fundamentalmente no campo da psicanálise, pretendendo estabelecer uma correlação entre um tipo social e um tipo clínico e, finalmente, tencionando resgatar uma concepção que valoriza um ser potencialmente criativo, este estudo parte, fundamentalmente, das obras de Freud e Winnicott. Primeiramente, analisa a noção de melancolia nos textos freudianos, bem como o conceito de narcisismo: foi por eles que os psicanalistas começaram a se debruçar sobre o tema da depressão. Ainda com relação a Freud, analisa sua concepção implícita de criatividade e constata que, nesse autor, a criatividade não é majoritariamente concebida como primordial, mas sim secundária à perda de objeto de investimento libidinal ou à nossa condição de seres desamparados. Neste sentido, Freud se refere mais à fantasia compensatória. Ainda neste plano da discussão, o conceito de "imaginário radical" de Castoriadis insere-se como contribuição à possibilidade de se conceber um processo de criação individual no qual há autonomia de pensamento e ação, logo sem determinismos corporais ou sociais. Nos últimos três capítulos, o pensamento de Winnicott se impôs como crucial. Ele inverte a relação entre depressão e criatividade, para nos conceber como ser es eminentemente criativos e se perguntar por que ocorrem bloqueios que instalam a depressão enquanto perda desta forma de viver. Winnicott concebe tanto um momento de indiferenciacão mãe-bebê (sem entidades abstratamente separadas), quanto enfatiza a importância da relação intersubjetiva. Seu modelo de entendimento da depressão, segundo o qual, sem contenção do outro, a criatividade primária não se transforma em experiência criativa, é também um eixo central desta tese que articula o individualismo...