Representação social e vulnerabilidade feminina em tempos de aids
Publication year: 2003
Theses and dissertations in Portugués presented to the Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães to obtain the academic title of Mestre. Leader: Barbosa, Constança Simões
A aids é uma doença moderna e, em pouco mais de 20 anos, foram construídos conceitos e idéias que a estigmatizaram e até hoje a acompanham. A incidência dos primeiros casos de aids em homens jovens, quase exclusivamente homossexuais, estabeleceu uma relação intrínseca entre aids e comportamento sexual e, ao invés de mostrar o que há de comum nas práticas sexuais, apenas reforçou estigmas e preconceitos sobre sexo imoral. A crença de que a AIDS fosse restrita a grupos, como homossexuais masculinos, bissexuais e usuários de drogas endovenosas, simulou uma invulnerabilidade a outros grupos e, por muito tempo, a idéia de disseminação da infecção via práticas heterosexuais foi negada. Quando se deu a notificação dos primeiros casos de mulheres infectadas, um novo fator de proteção foi automaticamente pensado: a aids era uma doença apenas de mulher promíscua. Neste contexto, a mulher, fora dessa categoria, se revestia de uma proteção ilusória que apenas favoreceu o aumento de sua vulnerabilidade frente à infecção. Em geral, mulheres pobres, com grau de escolaridade pouco expressivo, foram sendo contaminadas, vítimas de um pensamento hegemônico de invulberabilidade feminina, reforçada pelo contexto da heterossexualidade e monogamia em que estavam inseridas. Esse trabalho propõe a resgatar a compreensão do imaginário que mulheres casadas, em situação de pobreza, moradoras do bairro de Alberto Maia, Camaragibe, PE, possui acerca da aids. Dessa forma, se espera contribuir para que o enfrentamento da epidemia se dê de forma mais sintonizada com a realidade em que esta acontece. Esse estudo exigiu uma abordagem qualitativa, tendo em vista a subjetividade do objeto, na qual utilizamos a observação participante, a pesquisa documental e a entrevista semi-estruturada. Os resultados obtidos nos mostraram que as representações sociais utilizadas por essas mulheres para expressar a aids, estão revestidas de idéias que as afastam da possibilidade de algum dia apresentarem este mal. Este fato remete a crença de imunidade permanente e de imortalidade que o homem possui, e que tantas vezes já foram retratadas historicamente