O presente estudo considera a ecologia do ciclo de transmissão do Trypanosoma cruzi em dois ambientes distintos e,a interação hospedeiro-parasita em infecções naturais e experimentais. Em um ambiente urbano de Caracas (Venezuela),sem registro de infecção humana pelo T.cruzi,foi confirmada a presença do complexo enzoótico T.cruzi-Didelphis marsupialis-Rattus rattus-Panstrongylus geniculatus, de alta transmissibilidade para T. cruzi I. A alta capacidade infectante para animas de laboratório, de metacíclicos de glândulas anais de D. marsupialis e a susceptibilidade de infecção pela genitália de camundongos com isolados de T. cruzi obtidos de R. rattus e D. marsupialis , capturados em Caracas, nos leva a considerar mecanismos alternos de transmissão para esta enzootia. Adicionalmente, foi considerado o ambiente silvestre e rural do Parque Nacional Serra da Capivara (PARNA, Piauí-Brasil) endêmico para a doença de Chagas, nele se revelou um ciclo de transmissão mantido pelo Triatoma brasiliensis e, maiormente, pelos reservatórios D. albiventris e Trichomys apereoides, nos quais circulam os três genótipos de T. cruzi. Estudo sobre o conteúdo estomacal dos triatomíneos coletados revelou a pouca importância do homem como fonte de sangue alimentar no PARNA. A maior infestação ao nível do peridomicílio (escudo para a domiciliação vetorial), observada nestes dados, explicaria a ausência de casos ativos da doença de Chagas na última década. Os pequenos mamíferos da região mantêm um ciclo de transmissão focal, com a maior transmissibilidade em Pedra Solta (interior do PARNA), através do T. apereoides. Nós supomos que para ambos ambientes, efeitos antrópicos como a urbanização, uso dos ecotópos domésticos e peridomésticos, manejo de fauna sinántrópica e doméstica e a incorporação de elementos da enzootia na moradia humana, são essenciais na determinação do ciclo de transmissão.