Dinâmica da epidemia de AIDS na cidade do Recife: 1985 a 2000

Publication year: 2001
Theses and dissertations in Portugués presented to the Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães to obtain the academic title of Mestre. Leader: Barbosa, Constança Clara Gayoso Simões

A pandemia de aids é bastante complexa e é configurada como um verdadeiro mosaico de sub-epidemias, apresentando importantes mudanças na sua dinâmica de expansão e no perfil epidemiológico, desde o aparecimento dos primeiros casos, há aproximadamente duas décadas, em diferentes regiões do mundo. A cidade do Recife, com 1.421.993 habitantes, registrou os primeiros casos de aids em meados dos anos 80 e detém uma das maiores taxas de incidência da doença na região nordeste. Na hipótese de que o avanço da epidemia estaria acompanhado por uma mudança do perfil epidemiológico dos doentes, este estudo analisa a evolução do perfil da população atingida para os períodos de 1985-2000, segundo características de sexo, escolaridade, categoria de exposição, idade e bairro de residência. Para a identificação de fatores associados às mudanças no perfil da epidemia, procedeu-se a análise de variância (ANOVA) das variáveis selecionadas em relação aos períodos de diagnósticos e elaborou-se mapas temáticos para a análise de tendência espaço-temporal. Dos 2.243 casos estudados, 1802 (80,3 por cento) eram homens e 441 mulheres, apesar de ter-se verificado um aumento progressivo da participação feminina, representado pela diminuição da razão de sexo (M:F) que passa de 21:1, nos primeiros anos da epidemia, para 2,7:1 no período mais recente. A incidência média global foi de 1,68 por 100.000 habitantes, com um aumento de 2 casos por 100.000 hab. no período inicial (1985-1998) para 16 casos por 100.000 hab. no período mais recente (1997-2000). Os mapas mostraram uma expansão dos casos de aids a partir da área central (portuária) e sul (litorânea) para as regiões mais periféricas da cidade. Dos 94 bairros do Recife, 88 (93,6 por cento) já registraram pelo menos um caso de aids, os bairros com as maiores taxas de incidência foram o do Recife (197 casos por 100 mil habitantes), Santo Antônio (43,70 casos por 100 mil habitantes) e Cidade Universitária (45,70 casos por 100 mil habitantes). Apenas os bairros da Jaqueira, Monteiro, Pau Ferro, Torreão, Sancho e Paissandu, não registraram nenhum caso de aids, até 2000. A crescente expansão da aids no Recife, marcada pelos processos da heterossexualização, da feminização, da periferização e da pauperização da epidemia, aponta para a necessidade de adoção de uma política de intervenção pautada em ações focalizadas, prioritariamente, em grupos populacionais de maior vulnerabilidade social e de baixos estratos socioeconômicos.

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