A questão do desejo da gravidez e da maternidade em mulheres vivendo com HIV/AIDS, na perspectiva Psicanalítica

Publication year: 2005
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade de São Paulo. Faculdade de Saúde Pública to obtain the academic title of Mestre. Leader: Alvarenga, Augusta Thereza de

Nosso objetivo central foi conhecer como as mulheres, vivendo com HIV/Aids, percebem e atribuem sentido às suas decisões reprodutivas, bem como caracterizar as formas de manifestação do desejo inconsciente, a partir do prisma psicanalítico. As entrevistadas apontaram, em função da gravidez, a reorganização de sua vida pessoal, obtenção de suportes familiares e institucionais adicionais, além do bom acolhimento e seguimento para profilaxia da TMI por parte da equipe de atendimento especializado. Revelaram também, dilemas e ambivalências relativos ao desejo inconsciente da gravidez e maternidade e que suas decisões reprodutivas não são pautadas pelo provável estado sorológico da criança. O discurso dessas mulheres apresentou ainda, uma contradição quando avaliam as decisões reprodutivas de outras mulheres soropositivas como uma "loucura" ou "irrespondabilidade", enquanto procuram se des-responsabilizar por suas próprias decisões. Isso ocorre porque elas estabeleceram uma relação espetacular idealizada com o Outro, como estratégia, para serem aceitas e, assim, tentam tamponar sua Falta constitutiva. Observamos que essa posição se evidencia nas relações conjugais-afetivas e tende a repetir na relação com a equipe de saúde. O discurso das mulheres mostrou que seu comportamento não é, necessariamente, determinado pelas orientações recebidas da equipe, mas, foi possível identificar sua necessidade de se mostrarem como aderentes ao tratamento e gratas pelo suporte institucional.Concluímos que a Psicanálise pode trazer uma contribuição para o campo da Saúde Pública, à medida que permite a inclusão das idiossincrasias na relação do sujeito com o outro/Outro, e assim, viabilizar o resgate da singularidade do desejo inconsciente do sujeito em questão, além de permitir uma reflexão sobre o cuidado terapêutico e o acolhimento no atendimento a mulheres vivendo com HIV/Aids.

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