Em nossa prática, no cuidado com pessoas com câncer e seus familiares, e no convívio com enfermeiras em clínicas especializadas em tratamento quimioterápico, temos observado que o cotidiano destas pessoas é permeado pelo desafio de encontrar significados e respostas aos questionamentos inerentes ao processo de viver - adoecer - curar - morrer e de implementar medidas para promover a vida ou aliviar o sofrimento. Neste estudo temos como objetivo desvelar o significado, para as enfermeiras, de cuidar de pessoas com câncer em tratamento quimioterápico. Realizamos um estudo exploratório de natureza qualitativa, com abordagem fenomenológica, fundamentado nas concepções do filósofo alemão Martin Heidegger (1999). Foram entrevistadas 14 enfermeiras que trabalham em uma Clínica de Quimioterapia da rede privada do Rio de Janeiro. Para elas, cuidar de pessoas com câncer em tratamento quimioterápico é: (a) sofrer ao estar diante das dúvidas e sofrimentos no cuidado ao cliente com câncer, (b) buscar modos de enfrentamento para aliviar a dor cotidiana de assistir ao cliente em seu sofrimento, (c) valorizar a vida, o cuidado prestado e o apoio ao outro na assistência diária. Ficou também evidente a necessidade que as enfermeiras têm de cuidar de si para poderem cuidar dos outros. Cuidar de clientes oncológicos resulta em um desgaste físico e emocional muito grande devido ao intenso convívio entre cliente e enfermeira e o compartilhamento dos temores do primeiro. Esse convívio muitas vezes traz para as enfermeiras o sentimento de temor e as faz sofrer. Ao mesmo tempo que é um trabalho sofrido, esse convívio é também gratificante. Se faz necessário uma mudança de paradigmas na formação do enfermeiro, a fim de que ele possa cuidar de pessoas com câncer sem associá-lo a sofrimento, dor e morte.