O presente trabalho analisou a evolução dos níveis de hemoglobina de crianças menores de 24 meses expostas à uma intervenção na anemia ferropriva que foi realizada no período entre 1996 e 2002 nas comunidades acompanhadas por um programa de atenção primária à saúde -Projeto Favela-UNIFESP/EPM. A intervenção consistiu na orientação alimentar e fornecimento de ferro medicamentoso, em dose profilática ou terapêutica conforme resultado da avaliação da hemoglobina (Hb) feita periodicamente dos 4 aos 24 meses, além do acompanhamento das condições de saúde, crescimento e desenvolvimento da criança desde o nascimento até os dois anos de vida.

O estudo foi dividido em três etapas:

análise da hemoglobina no 4° mês de vida verificando sua relação com variáveis sócio-econômicas, de saúde e alimentação; identificação de fatores de risco e de proteção para anemia ferropriva nas crianças menores de 24 meses e avaliação da efetividade da intervenção do Projeto Favela sobre os níveis de hemoglobina das crianças. Os 101 valores de Hb aos 4 meses de idade não se relacionaram com nenhuma variável estudada. Nas 130 crianças acompanhadas totalizaram-se 371 dosagens de Hb dos 6 aos 24 meses e através da análise de regressão logística simples identificaram-se a ordem de nascimento e o consumo de leite de vaca aos 4 meses como fatores de risco para anemia ferropriva. Em relação aos fatores de proteção, a idade maior que 18 meses, o consumo de fórmula aos 4 e aos 6 meses, e de vitamina C, carne e feijão aos 6 meses levaram a um menor risco para anemia. Houve boa adesão à intervenção do Projeto Favela em 54,6 por cento dos casos. Nessas crianças observou-se redução significante da prevalência de anemia no primeiro e segundo ano de vida com destaque à redução dos casos de maior gravidade. Já o grupo com menor adesão somente mostrou uma tendência à redução dos casos de maior gravidade nos menores de 12 meses. Recomenda-se então que a intervenção na anemia ferropriva na criança menor de 2 anos seja incorporada na atenção básica à saúde