Tentativa de suicídio associada à violência física, psicológica e sexual contra a criança e o adolescente

Publication year: 2003
Theses and dissertations in Portugués presented to the Instituto Fernandes Figueira to obtain the academic title of Doutor. Leader: Minayo, Maria Cecília de Souza

Examinei uma amostra de 644 pessoas, com idades entre 10 e 70 anos, que deram entrada para atendimento médico no Hospital do Pronto Socorro João XXIII, em BH,MG. A amostra foi dividida em dois grupos, chamados de grupo tentativa e grupo controle. A hipótese de trabalho de que a tentativa de suicídio, em qualquer idade, pode estar associada com as violências sexuais, psicológicas e físicas, foi aprovada no que se refere aos abusos sexuais e psicológicos, confirmando a correlação. Não houve correlação entre tentativa de suicídio, em qualquer idade, e violência física na infâsncia e adolescência. A violência fisica sofrida foi interpretada como fazendo parte da educação familiar para a colocação de limites e não como um abuso e violência. No grupo tentatitva, a violência psicológica atingiu a 79 por cento (256) da amostra e no grupo controle, 48 por cento (66). O grupo tentativa acusou uma freqüência de 33 por cento (106) de abuso sexual, enquanto no grupo controle a freqüência foi de 13 por cento(42). Ambas as diferenças são estatisticamente significativas. A correlação mais significativa ocorreu entre a tentativa de suicídio verificada em qualquer idade da vida das pessoas e abuso sexual ocorrido na infância ou na adolescência. Apesar da atenuação para com o abuso físico, que não significou na amostra fator de risco para a tentativa de suicídio, ele foi da ordem de 35 por cento na população total, seguido do psicológico com 30 por cento, sexual com 19 por cento e apenas 16 por cento não sofreram nenhum abuso. Todos os tipos de abuso são mais freqüentes no sexo feminino. Nos casos clínicos ilustrativos analisados de quem tentou o suicídio e foi abusado sexualmente na infância ou adolescência, existe alto consumo de álcool e drogas, que são agravantes das más relações familiares e podem significar até mesmo uma forma de tratamento de psicopatologias não diagnosticadas e/ou tratadas de forma inadequada. Podem também servir para a negação do cotidiano do abusado. Entre os abusados na infância e adolescência, alguns se tornaram mais tarde abusadores também. Os pacientes, de ambos os sexos, abusados sexuqalmente na infância ou adolescência, usaram de mecanismos de defesa do ego, antes de tentarem o suicídio. Os mecanismos de defesa do ego parecem servir de adaptação e auxílio na elaboração inconsciente do abuso sexual. Quando os mecanismos de defesa falham, ou saõ insuficientes, o suicídio é tentado.

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