Sob o domínio da urgência: o trabalho de diretores de hospitais públicos do Rio de Janeiro
Publication year: 2005
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade de São Paulo. Instituto de Psicologia to obtain the academic title of Doutor. Leader: Fernandes, Maria Inês Assumpção
A presente investigação tem por objetivo analisar a prática gerencial em hospitais públicos hospitais gerais com emergência do município do Rio de Janeiro, vinculados aos níveis municipal, estadual e federal. Apoiando-se centralmente na abordagem da Psicossociologia francesa de análise das organizações, busca compreender as dimensões sociais, intersubjetivas e inconscientes de tais práticas, tendo como principal fonte as narrativa de seus diretores. Do ponto de vista metodológico, o estudo adotou a abordagem de narrativas de vida, focalizando a gestão hospitalar pública tanto como um mundo social, como também, expressão dos processos imaginários presentes nas organizações e que atravessam o relato dos entrevistados. A análise do material empírico teve como um de seus eixos o estudo do percurso profissional dos diretores, especialmente os processos que os levaram à função de direção de um hospital público. A designação para a primeira experiência na função de direção hospitalar encontra-se marcada pela contingência, em um contexto em que não existe carreira ou qualquer exigência de formação gerencial. (...). A partir deste quadro, a investigação aprofundou a análise das práticas gerenciais dos diretores revelando três modalidades. Uma primeira, em que se vislumbra o desenvolvimento de um processo de mudança, ganhando destaque os elementos imaginários que contribuem para a construção de uma visão de futuro do hospital, favorecendo os processos de ligação na organização Uma segunda modalidade de prática é marcada por projetos específicos que ganham destaque e são objeto de investimento da gestão. Um terceiro modelo estaria pautado pela luta para fazer funcionar, tendo como motor o imaginário da urgência. Na urgência, não há estratégia, só ato. (...) Nos hospitais a intensa precariedade tem implicações de vida ou morte, gerando grande sofrimento entre os profissionais e gestores. A crise dos hospitais públicos no Rio de Janeiro em 2004 e 2005 ganha vulto sem precedentes, levando a um contexto de guerra e de generalização do modelo da urgência. Os hospitais tornam-se espaço para manifestação de todo tipo de violência e desvalorização da vida. Os processos de mudança, presentes em duas das oito experiências, foram negativamente impactados, em um caso, pela exoneração do diretor e no outro, pela crise, evidenciando a fragilidade dos movimentos de mudança e impondo uma visão mais modesta quanto às possibilidades da organizações de saúde no contexto atual.