Vulnerabilidade e construções de enfrentamento da soropositividade ao HIV por mulheres infectadas em relacionamento estável

Publication year: 2003
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto to obtain the academic title of Doutor. Leader: Figueiredo, Marco Antonio de Castro

Os fatores políticos e econômicos que impulsionaram a epidemia de HIV/AIDS estão também intimamente ligados à organização social das estruturas de gênero e sexualidade, cujas hierarquias fazem das mulheres - em especial àquelas dos segmentos de baixa renda - extremamente vulneráveis à infecção pelo HIV. Foram entrevistadas 10 mulheres soropositivas para o HIV, com média de idade de 26 anos, tempo de diagnóstico variando de 2 a 10 anos, pertencentes à classe social menos favorecida, infectadas por via sexual pelo parceiro em relacionamento afetivo estável. Para a coleta dos dados foi utilizada a técnica de História de Vida, por incorporar as experiências subjetivas mescladas a contextos sociais. De acordo com a abordagem qualitativa de pesquisa, para a análise dos dados foi utilizada a Teoria da Representação Social. Através das narrativas, foi elaborado um quadro enfocando os eventos importantes na trajetória de vida destas mulheres, possibilitando o estudo das similaridades e a inserção das narrativas no contexto social de cada época. Através da análise de conteúdo, surgiram as seguintes categorias temáticas: 1)A soropotividade no cotidiano da mulher; 2) Dinâmica das Relações Afetivas; 3)A prática da Saúde no Discurso da Mulher Soropositiva. Observou-se que o maior agravante da vulnerabilidade se dá pelas limitações no espaço de suas relações pessoais, principalmente no que se refere à relação conjugal, visto configurarem um sistema relativamente autônomo e auto-regulado, onde as medidas preventivas são percebidas como externas ao sistema intimo. Além disso, evidenciaram-se situações de vulnerabilidade como conseqüência de uma naturalização, principalmente no que se refere às relações entre os gêneros. Salienta-se também a fragilidade da lógica racional, principalmente no que se refere ao modelo médico, que acredita que as representações e comportamentos constituem um sistema relativamente estável e coerente. Conclui-se pela importância da reconstrução da história de vida destas mulheres como base, tanto para o desenvolvimento de intervenções preventivas, como para o aperfeiçoamento dos serviços voltados para a saúde da mulher soropositiva. Com base nos resultados obtidos, foi apresentado um Projeto de Intervenção que consiste em propiciar um espaço de síntese e reconstrução, possibilitando a ressignificação das representações, experiências e práticas visando a redução da vulnerabilidade e construção de modos de enfrentamento ao HIV.
VIH

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