Este trabalho e parte de um projeto intitulado "Estudo dos signos, significados e praticas em saude mental", desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Saude Coletiva e do Departamento de Antropologia da Universidade Federal da Bahia, integrados a InternationalNetwork for Cultural Epidemiology and Community (NECOM). O objetivo desta tese e problematizar a relacao entre doenca mental e violencia, para compreende-la como parte da experencia de adoecimento socialmente construida. Trabalhamos com narrativas de reconstrucao de casos conhecidos e identificados como "doenca mental" por moradores de uma comunidade do litoral norte da Bahia. Partindo de uma retomada da historia da psiquiatria, buscamos demonstrar a posicao estrategica que a relacao entre doenca mental, consolidando um olhar que ve no comportamento violento o resultante de alteracoes biopatologicas. Apontamos os limites teorico-metodologicos dos estudos epidemiologicos sobre a questao, buscando na sociologia do desvio/marginalidade e na antropologia medica elementos teoricos para fundamentar uma abordagem alternativa as categorias nosologicas do transtorno mental e a definicao juridica de violencia. Seguindo categorias teoricas apresentadas por Foucault - governamentalidade, tecnologias de si, formas de subjetividade, experiencia e praticas discursivas, enfatizamos o carater normativo da experiencia de adoecimento, compreendida a partir da categoria desgoverno. A partir da analise das narrativas percebemos que a experiencia de adoecimento implica a contrucao de uma nova subjetividade marcada por comportamentos que rompem com o espaco normativo. Destacamos a centralidade do comportamento violento na construcao da experiencia de adoecimento na area estudada. A violencia real ou potencial se faz perceber atraves de atos, palavras e emocoes na relacao que o "sujeito adoecido" estabelece com as coisas, com os outros e consigo. A violencia que constitui a experiencia de adoecimento nao e produto de uma ...