Saúde como prática da liberdade: as práticas de famílias em um acampamento do MST e o desenvolvimento de estratégias de educação popular em saúde
Publication year: 2005
Theses and dissertations in Portugués presented to the Centro de Pesquisas René Rachou to obtain the academic title of Mestre. Leader: Schall, Virgínia Torres
As famílias do Acampamento Padre Gino (Frei Inocêncio MG), participantes do MST, lutam por saúde e qualidade de vida através da adoção de algumas práticas complementares afim de alcançarem a (saúde para todos), preconizada pela OMS. O objetivo deste trabalho foi conhecer e discutir tais práticas de saúde, bem como seu contexto e relação com os serviços oficiais de saúde, a fim de desenvolver estratégias de educação popular e motivar a discussão das políticas públicas. Esta pesquisa envolveu os métodos da educação popular e utilizou observação participante, questionário e entrevista. Durante a vivência no Acampamento, 38 famílias responderam a um questionário e 12 informantes-chave foram entrevistados. Entre as famílias, além da utilização dos serviços públicos de saúde, é comum o uso de práticas complementares (plantas medicinais, bioenergética, argila, orações, benzeções e alimentação adequada), havendo um sincretismo harmonioso entre diferentes racionalidades em saúde.Esta utilização é ora uma opção pessoal (resolução dos problemas simples, preferência, praticidade, tradição familiar, etc.) e ora uma imposição social (dificuldade financeira e/ou de acesso aos serviços oficiais), variando com a especificidade do momento ou do problema. Cem plantas foram apontadas como utilizadas para a busca e manutenção da saúde e, destas, 70 foram identificadas. Dentre as 70, 42 estão em consonância com a literatura sobre os usos populares e apenas 8 estão com ação cientificamente comprovadas. Plantas e receitas são trocadas na comunidade, ajudando a reforçar os laços sociais e a rede de apoio social. Fatores como a fé religiosa e a associação de saúde como capacidade para trabalhar também se fizeram presentes. A conquista definitiva da terra é percebida pelas famílias como capaz de melhorar a atual situação de saúde. Após a vivência, dois materiais educativos foram elaborados na tentativa de estimular um diálogo entre os saberes popular e científico.