Efeito dos inibidores de aspártico protease do HIV sobre Leishmania amazonensis
Publication year: 2009
Theses and dissertations in Portugués presented to the Instituto Oswaldo Cruz to obtain the academic title of Mestre. Leader: Alves, Carlos Roberto
O protozoário Leishmania é o agente etiológico da leishmaniose, doença cuja patogenicidade ainda não é bem compreendida. A terapêutica atual para a leishmaniose é pouco eficaz devido à toxicidade dos agentes terapêuticos disponíveis e à emergência de resistência aos medicamentos. Além disso, os países e regiões endêmicas são economicamente pobres e têm sua situação agravada devido ao aumento do número de casos de co-infecção Leishmania-HIV, devido à sobreposição das epidemias da Aids e da leishmaniose. No presente trabalho, foi investigado o efeito dos inibidores de aspártico protease do HIV (IPs-HIV) sobre a proliferação, ultraestrutura e diferenciação de Leishmania amazonensis. Além disso, foi avaliado o efeito dessas drogas sobre a interação com macrófagos, a atividade de aspártico protease e a expressão de proteases clássicas, que estão diretamente envolvidas na patogênese do parasito. Todos os IPs-HIV foram capazes de diminuir o crescimento do parasito de uma forma dose-dependente, especialmente nelfinavir e lopinavir, com o IC50 correspondendo a 15,12 (miu)M e 16,47, respectivamente. Análises por microscopia eletrônica revelaram que o tratamento com os inibidores causou mudanças profundas na ultraestrutura do flagelado, o encolhimento do citoplasma, aumento do número de inclusões lipídicas e núcleo intimamente envolto pelo retículo endoplasmático, bem como a condensação da cromatina, sendo esta última observação um indicativo de morte por apoptose. Os IPs-HIV não foram capazes de inibir a diferenciação do parasito da forma promastigota para amastigota nas condições utilizadas neste estudo, porém foram capazes de inibir diretamente a atividade de aspártico proteases contra substratos específicos em extratos brutos do parasito. O tratamento de formas promastigotas com os IPs-HIV antes da interação induziu a uma redução drástica dos índices de associação com macrófagos murinos.
O pós-tratamento também interferiu no desenvolvimento intracelular de L. amazonensis nos macrófagos, como avaliado, nos ensaios onde os IPs-HIV foram adicionados a culturas de células previamente infectadas. Apesar de todos estes efeitos benéficos, os inibidores induziram a um aumento na expressão de cisteíno proteases b (cpb) e da metaloprotease (gp63), dois fatores de virulência bem caracterizados de Leishmania spp. Diante da sobreposição leishmaniose/HIV, é fundamental compreender as sofisticadas interelações entre Leishmania, HIV e macrófagos. Além disso, há muitas questões não resolvidas, no que diz respeito ao tratamento de pacientes co-infectados com Leishmania-HIV, por exemplo, a eficácia do tratamento destinado a controlar cada patógeno nesses indivíduos continua indefinido. Os resultados in vitro apresentados adicionam novos conhecimentos sobre o vasto espectro de eficácia do IPs-HIV sobre patógenos oportunistas e sugerem que estudos adicionais devem ser realizados sobre os efeitos sinérgicos dos compostos classicamente utilizados no tratamento da leishmaniose e os inibidores da protease do HIV em macrófagos co-infectados.