Sepse e HIV: efeitos na resposta inflamatória e prognóstico
Publication year: 2011
Theses and dissertations in Portugués presented to the Instituto Oswaldo Cruz to obtain the academic title of Mestre. Leader: Bozza, Fernando Augusto
A infecção pelo HIV é um problema de saúde pública global, sendo estimadas 33,4 milhões de pessoas vivendo infectadas no final de 2008 (UNAIDS, 2009). No Brasil, desde o início da epidemia até junho de 2010, foram registrados 592.914 casos de síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA/AIDS) pelo Ministério da Saúde (Ministério da Saúde, 2010). Em 1996, com o início da terapia HAART (Highly Active Antiretroviral Therapy) ocorreu uma importante melhora do prognóstico, diminuição da letalidade, aumento na sobrevida dos pacientes HIV positivo, gerando uma mudança nas causas de internação. A incidência sepse na população geral vem aumentando, assim como na população HIV positivo. Foi demonstrado que a presença de sepse e sepse grave foi determinante na mortalidade da população HIV positivo. Acompanhamos prospectivamente pacientes HIV/SIDA, com critérios de sepse de acordo com a Conferência de Consenso da American College of Chest Physicians/ Society of Critical Care Medicine (ACCP/SCCM), onde as características clínicas e o prognóstico destes pacientes foram sistematicamente avaliados, bem como o padrão de resposta inflamatória frente a um quadro infeccioso graveForam incluídos 30 pacientes, com mediana da idade de 35 anos (IQ 18-58), com predomínio do sexo masculino (73 por cento). A mortalidade hospitalar observada foi de 50 por cento. A contagem de CD4 positivo deste pacientes foi 72 (mediana, IQ 16-190), e a carga viral de 33.028 cópias (mediana, IQ 2877-434.237) O principal sítio de infecção foi pulmonar, em 23 pacientes (76,7 por cento ). 10 pacientes apresentaram bacteremia confirmada (33 por cento). O principal agente identificado foi Mycobacterium tuberculosis (22 por cento). Não observamos nenhum parâmetro clínico nos pacientes HIV positivo com sepse que estivesse associado com prognóstico. As concentrações plasmáticas de cortisol, IL-6, IL-10 e G-CSF foram significativamente maiores entre os pacientes não sobreviventes em relação aos sobreviventes. Quando comparamos os pacientes HIV positivo sépticos com pacientes sépticos não-HIV a taxa de mortalidade não foi diferente. A mediana do SOFA nos pacientes sépticos HIV positivo e não-HIV foram 8 e 10 pontos, respectivamente; a mediana do SAPS II em ambos os grupos foi 55 pontos. Níveis de citocinas plasmáticas detectadas pelo sistema multiplex de pacientes sépticos (HIV positivo e não-HIV) no primeiro dia da sepse não apresentaram diferença significativa entre os gruposComparando a concentração plasmática do MIF en pacientes sépticos (HIV positivo vs não-HIV), estavam maiores nos pacientes HIV positivo (2,730 vs 0,7700 ng/mL, P=0,01), e os níveis de cortisol encontrados eram menores no grupo HIV positivo. Cortisol, IL-6, IL-10, e G-CSF são possíveis biomarcadores de prognóstico na população HIV+ com diagnóstico de sepse. Pacientes HIV+ com sepse apresentam concentrações plasmáticas de MIF maiores que a população geral, o que pode estar relacionado com a própria infecção pelo HIV, embora este achado deva ser melhor investigado. Embora os pacientes HIV positivo tenham um comprometimento da imunidade celular, o padrão de ativação da imunidade inata frente a um quadro infeccoso grave, em especial da produção de citocinas, não difere tanto da população não-HIV.