A criação dos Centros Interativos de Ciência e Tecnologia e as Políticas Públicas no Brasil: uma contribuição para o campo das ciências da vida e da saúde

Publication year: 2012
Theses and dissertations in Portugués presented to the Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca to obtain the academic title of Doutor. Leader: Eduardo Navarro Stotz

Esse trabalho investiga e analisa os processos que originaram os Centros Interativos de Ciência e Tecnologia (Science and Technology Centers), como conceito de museu e de práxis educativa voltada para a divulgação e popularização da ciência por meio de exposições interativas. Essa análise tem como base conceitual e método de trabalho a contribuição de Gramsci para o marxismo, enfocando a totalidade histórica: geral ̶ âmbito mundial; regional ̶ observando as particularidades da América Latina, e específica ̶ âmbito da realidade dos Centros Interativos de Ciência e Tecnologia (CICT), que hoje se espalham pelo Brasil sob o conceito ampliado de Museus e Centros de Ciência e Tecnologia. O foco do estudo está na compreensão dos processos de formação dos CICT no Brasil, buscando identificar que tipos de representações sobre a ciência e a tecnologia estes espaços têm gerado.

A pesquisa procura responder às questões:

1. Quais são os perfis que caracterizam os Centros Interativos de Ciências Brasileiros criados nas décadas de 1970 a 2000 e a que instituições estão associados? 2. Quais são as diretrizes políticas que orientam a criação e organização dos CICT? 3. Quais as influências dessas diretrizes nas disputas por definições e abordagens de exposições e, portanto, no campo da educação/cultura em ciência e saúde? A hipótese levantada pelo estudo é a de que os CICT são instituições que, além de terem características e objetivos diferenciados dos Museus de Ciência e Tecnologia tradicionais, tem seu surgimento marcado por uma conjuntura sócio-política e econômica específica, a do neoliberalismo, adquirindo, mais tarde, os atributos das políticas da chamada “Terceira Via”: a inclusão social, paz social, valorização das diversidades. Nesse processo as principais características e objetivos de CICT são frutos do apoio específico de políticas públicas criadas para direcionar seus temas e ações, o que os caracteriza como aparelhos que participam das modificações profundas que acontecem no direcionamento da educação/cultura científica da nação no período de sua criação. Esse fato passa sem uma reflexão específica, por parte de intelectuais de museus e de CICT, acerca das características da ciência que está sendo popularizada. Como consequência, intelectuais e instituições passam a trabalhar no sentido de uma nova sociabilidade científico-tecnológica embasada por um conceito superficial de ciência, que difunde a ciência como inovação/produto. Na América Latina, há um duplo papel para CICT como uma “nova pedagogia da hegemonia”(NEVES, 2005), agindo para o capitalismo mundializado(CHESNAIS): primeiro, funcionam como base para ampliar a sensação de acesso às informações científicas que a escola não consegue garantir para todos, enquanto preparam o trabalhador para uma crescente complexidade científico-tecnológica associada ao trabalho simples (MARX). Segundo, causam a sensação de que há uma democratização de acesso à atualização de uma ciência que muda velozmente sob a ilusão de um conceito de evolução positiva, ou seja, uma ciência que se tornaria cada vez melhor e homogeneamente distribuída. O que fica oculto é que a “melhoria” ou avanço técnico da ciência e tecnologia não corresponde necessariamente à melhoria da qualidade de vida de populações que estão diretamente expostas e implicadas nas condições de sua produção. Fica assim moldada a produção cultural de uma sociedade que assume como natural a divisão entre aqueles que celebram a ciência de forma permanente e alienada, legitimando a cidadania do consumo, e a maioria, que paga o ônus de uma economia tecnológico-desenvolvimentista, expropriada de condições mínimas de sobrevivência, moradia e saúde. Para enfrentar essa situação construindo uma hegemonia voltada para as classes trabalhadoras, é importante que profissionais de CICT se eduquem para avaliar a concepção de conhecimento que embasa o fomento da popularização da ciência por parte do Estado e das empresas que o financiam. Esse processo se dá criando bases para reflexões que levem a conhecimentos que interessem à classe trabalhadora discutir, se apropriar e divulgar. Para que isso aconteça é fundamental uma revisão no conceito de popularização da ciência que está sendo aplicado, tornando mais presentes os interesses, conhecimentos e saberes populares associados à ciência que está sendo exposta em CICT.

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