Publication year: 2016
Contexto:
O tratamento do câncer com medicamentos da classe das antraciclinas está frequentemente associado ao aparecimento de cardiotoxicidade. Esse grupo de medicamentos faz parte de aproximadamente 60% dos protocolos terapêuticos em oncologia pediátrica. No SUS, não existem protocolos que pautem a prevenção de cardiotoxicidade no uso de antraciclinas. Dentre as estratégias existentes, o dexrazoxano obteve resultados favoráveis pautados em desfechos intermediários (marcadores bioquímicos e medidas ecocardiográficas). Desfechos clínicos finalísticos (internações evitadas) não foram avaliados. Pergunta:
O uso de dexrazoxano associado à antraciclinas para o tratamento do câncer em pacientes pediátricos é eficaz, seguro e custo-efetivo na prevenção de cardiotoxicidade geradora de insuficiência cardíaca e outras doenças do coração quando comparado à quimioterapia isolada? Evidências científicas: Dentre as melhores evidências recuperadas, encontram-se 5 estudos que avaliaram eficácia e segurança, dentre eles ensaios clínicos e estudos de coorte nos Estados Unidos e Coréia do Sul respectivamente. Os grupos de pacientes em sua maioria tinham idade inferior a 18 anos, com leucemia linfoblástica aguda e linfoma de Hodking, e em tratamento com antraciclinas, em doses que variaram de 110 a 410mg/m2. Os desfechos analisados pelos estudos são bastante heterogêneos. Em sua maioria, os estudos usaram marcadores bioquímicos e medidas ecocardiográficas para prever cardiotoxicidade tardia, mortalidade, e sobrevida livre de eventos. Como resultado, o dexrazoxano se mostrou eficaz na prevenção da alteração de marcadores bioquímicos e medidas ecocardiográficas preditoras de cardiotoxicidade tardia. No que diz respeito à mortalidade e ao surgimento de neoplasias secundárias, não houve diferença estatisticamente significativa entre os braços de análise dos estudos. No âmbito da segurança do medicamento, medidas de toxicidade hematológica se apresentaram desfavoráveis ao uso do dexrazoxano. Discussão:
As interpretações dos resultados dos estudos devem ser observadas com cautela, pois nenhum deles, com os tempos de acompanhamento propostos, foram capazes de avaliar desfechos clínicos importantes e conclusivos como insuficiência cardíaca ou internação. Apesar disso, são algumas evidências apontam que desfechos intermediários (marcadores bioquímicos) podem ser bons preditores de problemas cardíacos sintomáticos no futuro. Decisão:
Não incorporar o dexrazoxano para prevenção de cardiotoxicidade causada por antraciclinas em crianças, como procedimento específico, no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS, dada pela Portaria SCTIE-MS nº 25 publicada no Diário Oficial da União (D.O.U.) nº 110, de 10 de junho de 2016.