Bullying como forma de sociabilidade juvenil: um estudo sobre práticas interacionais entre meninas na construção de identidades de gênero
Bullying as a form of youthful sociability a study of interactive practices among girls in the construction of gender identities
Publication year: 2017
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade de São Paulo. Faculdade de Saúde Pública. Departamento de Saúde, Ciclos de Vida e Sociedade to obtain the academic title of Doutor. Leader: Schor, Néia
Esta pesquisa é um estudo etnográfico realizado em duas escolas públicas do segundo ciclo do ensino fundamental (6º a 9° anos), de duas capitais, São Paulo e Salvador. Tendo como objetivo compreender o papel do bullying no processo de construção da identidade de gênero entre as meninas, foram utilizadas as seguintes técnicas metodológicas: observação participante, conversas informais individuais e grupais com jovens de ambos os sexos e entrevistas em profundidade com garotas, na faixa etária de 11 a 15 anos. A instituição escolar constitui um espaço basilar de poder que regula, normaliza e inculca modelos de feminilidade e masculinidade e da sexualidade heterossexual. Nesse processo de aprendizado social das identidades de gênero, o grupo de pares exerce papel fundamental na reprodução e/ou ressignificação das normas, práticas e discursos relacionados à feminilidade. O bullying cumpre um importante papel como mecanismo cultural estruturado para a prescrição de formas de produção e modelagem dos sujeitos. Tomando como ponto de partida as práticas interacionais cotidianas de inclusão/exclusão social, interpreta-se o bullying entre garotas como uma forma de sociabilidade, assentada em um jogo de diferenças e oposições. As disputas cotidianas entre as meninas associam-se à regulação da sua sexualidade e conformam um processo feminilizante através do controle e da punição de condutas socialmente reprovadas. Por meio dessas interações de regulação e controle da sexualidade são coproduzidas categorias de identidade de gênero, mediante a demarcação e negociação de posições e papéis na hierarquia social
This research is an ethnographic study carried out in two public schools of the second cycle of primary education (6th to 9th grade), from two Brazilian states capitals, São Paulo and Salvador. In order to understand the role of bullying in the process of constructing gender identity among girls, the following methodological techniques were used: participant observation, individual and group informal conversations with both sexes and in-depth interviews with girls in the range age from 11 to 15 years. The school institution is a basic space of power that regulates, normalizes and inculcates models of femininity and masculinity and of heterosexual sexuality. In this process of social learning of gender identities, the peer group plays a fundamental role in the reproduction and/or re-signification of norms, practices and discourses related to femininity. Bullying plays an important role as a structured cultural mechanism for the prescription of forms of production and modeling of subjects. Taking as a starting point the daily interactional practices of social inclusion/exclusion, it is interpreted bullying among girls as a form of sociability, based on a game of differences and oppositions. The daily disputes among girls are associated with the regulation of their sexuality and conform a feminizing process through the control and punishment of socially disapproved behavior. Through these interactions of regulation and control of sexuality, categories of gender identity are co-produced by demarcating and negotiating positions and roles in the social hierarchy