A expansão das classificações psiquiátricas nos últimos 30 anos e suas repercussões na psiquiatria infantil: o caso do Transtorno Bipolar em crianças e adolescentes

Publication year: 2015
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Medicina Social to obtain the academic title of Doutor. Leader: Bezerra Junior, Benilton Carlos

O diagnóstico do transtorno bipolar na infância só foi recentemente reconhecido na psiquiatria infantil, particularmente nos Estados Unidos. Até meados do século vinte não se acreditava que crianças pré-púberes pudessem apresentar sintomatologia compatível com esse diagnóstico, que foi descrito pela primeira vez por Emil Kraepelin no final do século XIX, com o nome de Psicose Maníaco-Depressiva. O termo Transtorno Bipolar foi usado em substituição à psicose maníaco-depressiva na passagem da segunda edição do manual diagnóstico e estatístico norte americano, DSM II, para o DSM III, em 1980. Entre 1994 e 2004 o número de crianças que receberam esse diagnóstico nos Estados Unidos sofreu aumento de 40 vezes, representando a maior bolha diagnóstica desde a primeira edição do DSM. Esse fenômeno resulta da modificação dos critérios diagnósticos pra o transtorno bipolar dos adultos, que são transpostos para a infância modificando seu pilar, que é a alternância entre estados opostos de humor, em um quadro crônico, não mais de depressão e euforia, mas agora de irritabilidade. Isso não aconteceu da mesma forma em outros países, onde as taxas de prevalência são infinitamente menores. No Brasil esses dados são ainda escassos. Nosso objetivo primário com esta pesquisa foi averiguar se o debate acerca do transtorno bipolar na infância é conhecido pelos psiquiatras infantis brasileiros e de que maneira essa discussão se reflete na prática clínica no Brasil. Essa avaliação foi realizada através da aplicação de entrevistas semiestruturadas a 20 psiquiatras infantis, localizados em cinco cidades de grande porte nos principais centros de formação e pesquisa do País. Pode ser constatado que os centros de pesquisa especializados no diagnóstico do transtorno bipolar na infância brasileiros repetem o modelo norte-americano, encontrando taxas muito próximas às encontradas naquele país, enquanto que serviços cujo atendimento não é organizado em função dos diagnósticos (CAPSi, por exemplo) apresentam um quadro bem diferente. O principal fator determinante desse cenário é a transposição da lógica da pesquisa, com suas escalas e instrumentos diagnósticos, para o campo complexo da prática clínica cotidiana, reproduzindo um modelo de avaliação descontextualizada e que desvaloriza a história pessoal da criança. Esta tese contribui para a ampliação do conhecimento sobre como parte importante dos psiquiatras infantis brasileiros lidam com a questão do transtorno bipolar na infância

More related