Cuidado domiciliar ao homem na perspectiva do atendimento às suas necessidades de saúde

Publication year: 2018
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade Federal de Minas Gerais. Escola de Enfermagem to obtain the academic title of Doutor. Leader: Marques, Rita de Cássia

O presente estudo parte da premissa de que os homens em situação de vulnerabilidade são evocados na concepção social como dominadores e inabaláveis, além de serem tratados a partir de uma visão biomédica mecanicista, centrada na doença, e nas limitações e incapacidades desses mesmos homens. Por isso, esta pesquisa firmou seus princípios numa perspectiva integral de gênero, ou seja, sob a ótica das masculinidades. Objetiva-se com este estudo, a partir de uma análise dos homens assistidos pela atenção domiciliar: conhecer as necessidades de saúde; investigar as práticas de cuidado prestadas; e compreender as masculinidades apresentadas pelos homens inseridos nesse contexto. Para delineamento coerente do percurso teórico-metodológico desta pesquisa, o trabalho utiliza-se da abordagem qualitativa, fundamentada no referencial epistemológico das Necessidades, de Agnes Heller (1986), e Necessidades de saúde, de Matsumoto (1999). A análise partiu de um estudo realizado com os homens assistidos pelo Serviço de atendimento domiciliar do município de João Pessoa Paraíba, bem como os seus cuidadores.

Os instrumentos adotados para a produção do material empírico foram:

a entrevista aberta, a observação e o diário de campo. A fim de analisar os dados empíricos, foi utilizado o referencial metodológico da Análise Crítica do Discurso, tendo como base conceitual o modelo tridimensional de Norman Fairclough. Esse estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais, para análise e parecer, de acordo com o estabelecido pela Resolução 466/12, do Conselho Nacional de Saúde, sob o nº 1.829.326. Com a análise crítica dos dados empíricos, os resultados estão organizados em quatro capítulos. O primeiro capítulo traz a categorização dos atores sociais desse estudo, mostrando a partir de características sociodemográficas, de saúde e do cuidar a prevalência de homens com problemas de saúde oriundos de causas externas: adultos jovens, solteiros, com baixa escolaridade, pardos, evangélicos e com baixa renda familiar; enquanto que os cuidadores, quase que em sua totalidade do sexo feminino: mães, com melhor escolaridade quando comparadas aos homens, pardas, católicas e dedicando-se integralmente ao cuidado dos homens. O segundo capítulo analisa as ideologias e contradições presentes na construção da identidade do ethos masculino e as consequências para as necessidades de saúde dos homens, percebendo-se neste capítulo que a maior parte dos homens apresentava um ethos com características ainda hegemônicas, enquanto outra parte deles apresentava características de um novo ethos, condicionado pela diferenciação que eles vivenciam em decorrência das suas condições de saúde. O terceiro capítulo investiga como as necessidades de saúde dos homens assistidos pela atenção domiciliar persistiam em um modelo biologista hegemônico, mas, devido à diferenciação com que eles se apresentavam, é possível identificar necessidades de saúde consideradas contra-hegemônicas em relação à masculinidade dominante, tais como: gregária; ter vínculo profissional ou com a equipe de saúde; ser acolhido e ter vínculo com o cuidador; religiosidade; acesso aos serviços e tecnologias de saúde; insumos; lazer; tecnologia digital; socialização, acessibilidade e inclusão. O quarto capítulo discorre sobre as concepções reproduzidas ou representadas do cuidado, de acordo com o ethos masculino, firmando um cuidado: feminino e maternal; profissional; fragmentado; por vezes transferido; reproduzido; responsável; corresponsável; com envolvimento afetivo; e enquanto trabalho. Sendo assim, este estudo compreendeu que a construção social das masculinidades gera obstáculos para o reconhecimento das necessidades de saúde do homem assistido no domicílio, e que as suas singularidades precisam ser reconhecidas para contribuírem com uma assistência à saúde mais integral e equânime.(AU)
The present study starts from the premise that men in situations of vulnerability are evoked in the social conception as domineering and unshakable, besides being treated in mechanistic biomedical vision, centered in the disease, and in the limitations and incapacities of these same men. Therefore, this research established its principles in an integral gender perspective, that is, from the point of view of masculinities.

The objective of this study is to analyze the men assisted by home care:

to know health needs; investigate the care practices provided; and understand the masculinities presented by men inserted in this context. For a coherent delineation of the theoretical-methodological path of this research, the work is based on the qualitative approach, based on Agnes Heller’s epistemological framework of Necessidades (1986) and Necessidades de saúde (1999), by Matsumoto. The analysis was based on a study carried out with the men assisted by the Home Care Service of the city of João Pessoa-Paraíba, as well as their caregivers.

The instruments adopted for the production of the empirical material were:

the open interview, the observation and the field diary. In order to analyze the empirical data, the methodological reference of the Critical Discourse Analysis was used, having as conceptual base the three-dimensional model of Norman Fairclough. This study was submitted to the Research Ethics Committee of the Federal University of Minas Gerais for analysis and opinion, in accordance with Resolution 466/12 of the National Health Council, under No. 1,829,326. With the critical analysis of the empirical data, the results are divided into four chapters. The first chapter presents the categorization of the social actors of this study, showing the socio-demographic, health and care characteristics of men with health problems from external causes: young adults, single, low schooling, of brown ethnicity, evangelicals and with low family income; while the caregivers, almost all of them female: mothers, with better education when compared to the men, of brown ethnicity, Catholics and dedicating themselves fully to the care of men. The second chapter analyzes the ideologies and contradictions present in the construction of the identity of the male ethos and the consequences for the health needs of the men. It is observed in this chapter that most men presented an ethos with characteristics still hegemonic, while another part of them presented characteristics of a new ethos, conditioned by the differentiation that they experience as a result of their health conditions. The third chapter investigates how the health needs of men assisted by home care persisted in a hegemonic biologist model, but, due to their differentiation, it is possible to identify health needs considered to be counterhegemonic in relation to dominant masculinity, such as: gregarious; have a professional relationship or with the health team; be welcomed and bonded with the caregiver; religiosity; access to health services and technologies; inputs; recreation; digital technology; socialization; accessibility and inclusion. The fourth chapter deals with the reproduced or represented conceptions of care, according to the masculine ethos, establishing a care: feminine and maternal; professional; fragmented; sometimes transferred; reproduced; responsible; co-responsible with affective involvement; and while working. Thus, it is understood that the social construction of masculinities creates obstacles for the recognition of the health needs of the man assisted at home, and that their singularities need to be recognized to contribute to a more integral and equitable health care.(AU)

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