Redes sociais na experiência de mulheres em situação de violência perpetrada por parceiro íntimo

Publication year: 2018
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade Federal de Minas Gerais. Escola de Enfermagem to obtain the academic title of Doutor. Leader: Freitas, Maria Imaculada de Fátima

A violência contra as mulheres é um fenômeno presente em todo o mundo, sendo considerada uma violência de gênero e tendo os parceiros e ex-parceiros das mulheres como principais perpetradores. Interações fora do relacionamento conjugal que propiciem encontrar caminhos para o enfrentamento das vulnerabilidades e sair da lógica instituída de violência perpetrada por parceiro íntimo advêm das diferentes redes de convivência ou das redes institucionalizadas pelo Estado. O objetivo geral desse estudo foi analisar a configuração, a dinâmica e o apoio ofertado pelas redes sociais primárias e secundárias de mulheres em situação de violência doméstica perpetrada por parceiro íntimo, pela ótica das mulheres, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Teve como objetivos específicos identificar a rede primária e secundária de apoio à mulher em situação de violência doméstica por parceiro íntimo, analisar a trajetória das mulheres vítimas de violência doméstica nas redes de suporte social, compreender a natureza das relações entre as mulheres e os parceiros autores de violência, pela ótica dessas mulheres. Trata-se de um estudo qualitativo tendo como ponto de ancoragem o modelo teórico-metodológico proposto por Urie Brofenbrenner conhecido como Teoria do Desenvolvimento Humano e a Teoria das Redes Sociais na vertente proposta por Carlos Sluzki. As participantes do estudo foram mulheres em situação de violência perpetrada por parceiro íntimo atendidas por Centro de Referência à Mulher, em Belo Horizonte, Minas Gerais. Os dados foram coletados em duas etapas, a primeira se referiu ao preenchimento de um roteiro preestabelecido para identificação da situação sociodemográfica da participante e contexto material de vida com questões relacionadas à situação de violência, além de entrevista aberta e em profundidade. A segunda fase se constituiu da construção de genogramas e ecomapas de cada participante. Os dados foram analisados por meio da análise estrutural da narração descrita por Demazière e Dubar (1997).

A análise dos dados resultou em seis categorias sociológicas:

1) Repercussões da Violência na Vida das Mulheres e Formas de Enfrentamento; 2) Vivência de Violência ao Longo do Ciclo de Vida; 3) Interações entre as Mulheres e o Parceiro Autor de Violência; 4) Dinâmica e Estrutura das Redes Sociais de Mulheres em situação de Violência; 5) Dinâmica Relacional das Redes Pessoais; 6) Interações das Mulheres em Situação de Violência com a Rede de Atendimento. A interpretação dos resultados revelou que a convivência num ambiente violento durante o ciclo de vida predispõe a mulher ao risco de violência nas relações afetivas e familiares. A busca inicial por apoio ocorre, principalmente, em seu meio social, sobretudo na rede de parentesco e de amizade. Os papeis sociais de gênero, principalmente no caso de familiares, tiveram grande influência na procura e no desvelamento da situação de violência. Pessoas do sexo feminino são as mais procuradas, e os suportes emocional e material são os principais tipos ofertados, além de aconselhamento para a procura de serviços institucionalizados e rompimento com a situação de violência. Apesar disso, a rede pessoal dessas mulheres foi restrita a poucas pessoas de seu convívio, observando-se o isolamento a que estão expostas, o que as deixa mais vulneráveis à violência do parceiro. Na busca por Serviços da Rede Secundária as mulheres relataram fragilidades como a desarticulação dos serviços e a desumanização no atendimento. Entretanto, nos serviços especializados que fornecem um acompanhamento dos casos a atendimento periódico houve maior possibilidade de vínculo entre as usuárias e os profissionais que as atendem. Os resultados mostram a necessidade de maior interlocução e atuação dos serviços que compõem a rede de atendimento à mulher em situação de violência em Belo Horizonte, das quais os serviços de saúde fazem parte, para melhorias desse atendimento.(AU)
Violence against women is a phenomenon which is present all over the world. It is considered a gender-related violence, of which partners and ex partners are the most common perpetrators. Different interactions from outside conjugal relationships, which enable victims to find paths to face vulnerabilities as well as abandon the established logics of intimate-partner violence occur in both different societal networks and those institutionalized by the government. The general aim of this study was to assess the configuration, dynamics and support made available by primary and secondary social networks of women in a setting of violence perpetrated by an intimate partner, as seen by women, in Belo Horizonte, Minas Gerais. Its specific objectives were to identify primary and secondary support networks available for women in domestic violence cenarios caused by intimate partners, to analyze such women’s trajectories in social support networks and to understand the nature of interactions between women and violent partners as they are seen by the women. It is a qualitative study based on the Urie Brofenbrenner theoretical-methodological model, known as the Theory of Human Development and Theory of Social Networks, as proposed by Carlos Sluzki. The women participating in the study are from scenarios of violence done by intimate partners under the care of Reference Centers for Women’s Health in Belo Horizonte, Minas Gerais.

Data were collected in two stages:

the first being the filling of preestablished script forms for identification of sociodemographic situations of participants and objective life contexts, using questions related to the situation of violence, as well as open in-depth interviews; The second stage consisted in building genograms and ecomaps of each participant. Data were analyzed by means Demaziére and Dubar’s structural analysis.

It resulted in six sociologic categories:

1) Repercussions of Violence in women’s lives and ways of resistance; 2) Living with violence throughout the lifecycle; 3) Interactions between women and violent partners; 4) Dynamics and structure within Social Networks for women in situations of violence; 5) Relationship dynamics of Personal Networks; and 6) Interactions of women in scenarios of violence with the Service Network. The interpretation of results revealed that living in a violent environment during a lifecycle predisposes women to violence within affective and familial relationships. The initial search for support occurs mainly within women’s social environment, especially family and friends. Gender-related social roles, especially in the case of family members, had great influence in seeking help and unveiling cases of violence. Female individuals are the most commonly sought by victims, and support given are mainly emotional and material, besides encouraging contact with institutionalized services in order to escape situations of violence. Despite that, women’s social networks was restricted to few people from closer circles, considering the isolation to which they are exposed, which, in turn, makes them more vulnerable to partners’ violence. When Secondary Network Services were sought, women reported frailties such as disarticulation and inhumane treatment. However, in specialized services providing supervision and periodic follow-up, a greater possibility of bondage between servants and users was reported. Results reveal the need for better communication and performance in services integrating the assistance network for women in situations of violence in Belo Horizonte, including healthcare services, in order to improve them.(AU)

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