O trabalho do enfermeiro na Atenção Primária à Saúde Rural no Brasil

Publication year: 2019
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade Federal de Minas Gerais. Escola de Enfermagem to obtain the academic title of Doutor. Leader: Alves, Marília

O objetivo geral deste estudo foi analisar o trabalho de enfermeiros da Atenção Primária à Saúde em áreas rurais, focalizando os sentidos do trabalho, políticas de saúde rurais e condições de trabalho. Foi realizado um estudo de caso com abordagem qualitativa. Os participantes foram 11 enfermeiros de equipes da Estratégia Saúde da Família de áreas rurais do município de Campina Grande, Paraíba. A coleta de dados ocorreu no período de janeiro a março de 2017, por meio de entrevista, mediante uso de roteiro semiestruturado, e por meio de análise documental. Os documentos e as entrevistas foram submetidos à Análise de Conteúdo.

Na análise dos documentos foram construídas duas categorias:

"Políticas internacionais de saúde para área rural" e "Políticas nacionais de saúde para área rural".

Das entrevistas emergiram quatro categorias:

"Contexto de vida e saúde de populações atendidas pela Estratégia Saúde da Família de área rural: um lugar de população carente"; "Condições de trabalho de enfermeiros da Estratégia Saúde da Família de áreas rurais"; "Práticas cotidianas de enfermeiros em áreas rurais"; "Sentidos do trabalho para enfermeiros da Estratégia Saúde da Família de áreas rurais". No Brasil vem sendo criadas políticas para a redução das desigualdades em saúde dos diversos grupos de populações rurais do país, mas essas políticas não se efetivaram completamente. A primeira categoria revelou que a população rural tem condições de vida e saúde precárias; a maioria constituída de agricultores, aposentados, com elevado número de pessoas desempregadas. A Unidade de Saúde da Família constitui a única alternativa de acesso à saúde e há isolamento dessa população em relação ao uso de tecnologias de comunicação e informação. A segunda categoria descreve as dificuldades inerentes às condições de trabalho dos enfermeiros.

As principais dificuldades foram:

percurso longo percorrido pelo enfermeiro para acesso às Unidades de Saúde da Família rurais por meio de rodovia asfaltada e estrada de terra; cronograma de trabalho diferenciado em função das particularidades existentes do meio rural que influenciam o acesso ao serviço. A terceira categoria mostra que as práticas cotidianas dos enfermeiros estão focadas em grupos já conhecidos pelos protocolos ministeriais, como crianças, hipertensos, diabéticos, além de ações programáticas e de atendimento individual à demanda espontânea. Essas práticas são influenciadas pelas condições de trabalho, como transporte precário no deslocamento para as áreas rurais, falta de água nas unidades, o que é essencial para realizar os procedimentos e a assistência. A quarta categoria descreve os sentidos do trabalho para os enfermeiros com base nas dimensões dos sentidos do trabalho definidas por Morin; Tonelli e Pliopas, (2007), que são: individual, organizacional e social. Os enfermeiros identificam que o trabalho produz sentido positivo ao perceberem a satisfação pessoal no trabalho, crescimento e aprendizado, identificação com o trabalho, utilidade da atividade que realizam, vínculo com a população e a inserção e contribuição social do trabalho. Em contrapartida, a falta de plenitude no trabalho, em especial, decorrente das difíceis condições e da organização dos serviços, e a relação distante da gestão com os profissionais, foram os principais aspectos identificados pelos profissionais como perda de sentido para desenvolverem o trabalho. Conclui-se que o trabalho do enfermeiro da Estratégia Saúde da Família das áreas rurais estudadas possui uma dinâmica diferenciada, com 8 particularidades próprias da área rural e por dificuldades de infraestrutura, organização e operacional dos serviços, que afetam o desempenho do trabalho de enfermagem compatível com a Atenção Primária à Saúde. Aspectos esses que influenciam na atribuição de diferentes sentidos ao trabalho por este profissional. São necessárias políticas de saúde, em especial, do Sistema Único de Saúde, para aprimorar o modelo de atenção à saúde e combater as iniquidades em saúde de forma a contemplar populações de áreas rurais.(AU)
The general objective of this study was to analyze the work of primary health care nurses in rural areas by focusing on the meanings of work, rural health policies and working conditions. A qualitative case study was conducted with 11 nurses from Family Health Strategy teams from rural areas of the city of Campina Grande, state of Paraíba. The data collection period was between January and March 2017 through semi-structured interviews and documentary analysis. The documents and interviews underwent Content Analysis. In the analysis of documents, were organized two categories, namely: ‘International health policies for rural areas’ and ‘National health policies for rural areas’.

Four categories emerged from the interviews:

‘Life and health context of populations served by the Family Health Strategy of rural areas: a place of underserved population’; ‘Working conditions of Family Health Strategy nurses of rural areas’; ‘Daily practices of nurses in rural areas’; ‘Work meanings for the Family Health Strategy nurses of rural areas’. Although policies have been created for reducing health inequalities in rural population groups in Brazil, they have not been fully implemented. The first category revealed the precarious living and health conditions of the rural population, which is mostly consisted of farmers, retirees and a large number of unemployed persons. The Family Health Unit is the only alternative for health access and this population is isolated in relation to the use of communication and information technologies. The second category describes the difficulties inherent in nurses’ working conditions.

The main difficulties were the following:

long distances travelled by nurses to rural health units through asphalted highways and dirt roads; differentiated work schedule according to the existing peculiarities of the rural environment that influences the access to service. The third category shows that nurses’ daily practices are focused on groups already known by ministerial protocols, such as children, hypertensive and diabetic patients, and through programmatic actions and individual care to spontaneous demand. These practices are influenced by working conditions, such as poor transport on the way to rural areas and lack of water in the units, which is essential for performing procedures and assistance. The fourth category describes the meanings of work for nurses based on the dimensions of the meanings of work defined by Morin; Tonelli and Pliopas (2007), which are the individual, organizational and social. Nurses identify that work brings positive meaning when feeling personal satisfaction at work, growth and learning, identification with work, usefulness of the activity they perform, bond with the population and the insertion and social contribution of work. On the other hand, the lack of fullness at work, especially due to difficult conditions and the organization of services, and the distant relationship between management and professionals, were the main aspects identified by professionals as a loss of meaning for development of work. The conclusion is that work of Family Health Strategy nurses of the rural areas studied has a differentiated dynamic with particularities of the rural area and by infrastructure, organization and operational difficulties of services affecting the performance of compatible nursing work with Primary Health Care. Such aspects influence these professionals’ attribution of different meanings to work. Health policies, especially of 10 the Brazilian SUS (Health Care System) are needed to overcome the health care model and combat health inequities in order to include rural population groups.(AU)

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