Representações sobre sexualidade de pessoas com diabetes mellitus ou hipertensão arterial sistêmica

Publication year: 2019
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade Federal de Minas Gerais. Escola de Enfermagem to obtain the academic title of Mestre. Leader: Freitas, Maria Imaculada de Fátima

As Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) representam uns dos maiores problemas de saúde pública da atualidade, sendo a principal causa de morbimortalidade mundial e no Brasil. Entre as DCNT destacam-se a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) e o Diabetes Mellitus (DM), que possuem um conjunto de fatores de risco responsáveis pela magnitude das mortes e por fração substancial da carga de doenças na população brasileira. Estas doenças, além de alterarem a fisiologia corporal causando disfunções físicas, afetam e são afetadas por condições psicológicas e sociais, que interferem direta e indiretamente na sexualidade da pessoa que vive com a DCNT. As interferências se devem tanto a aspectos da própria doença e do tratamento, como a aspectos subjetivos que incluem, por exemplo, a imagem corporal, o amor próprio e o autocuidado, que são, muitas vezes, negligenciados. O objetivo desse estudo foi compreender os modos de pensar a sexualidade pelas pessoas com HAS ou DM. Trata-se de pesquisa qualitativa, fundamentada na Teoria das Representações Sociais, a partir das proposições de Alain Giami. Foram realizadas entrevistas individuais abertas e em profundidade com 25 usuários de serviços de atenção primária à saúde do município de Belo Horizonte. A Análise Estrutural de Narração foi utilizada para desvelar o conteúdo dos dados com o auxílio do Software MAXQDA12.

Os resultados finais foram organizados em duas categorias:

1) Representações do sujeito sobre sexualidade; 2) Abordagem da saúde sexual no processo de cuidados nos serviços de saúde segundo os usuários. Não houve diferenças entre os discursos das pessoas com DM e HAS, e sim entre os discursos masculinos e femininos, mostrando a influência das normas sociais de gênero no modo de viver a sexualidade dessas pessoas. Os participantes do estudo, de modo geral, entendem que sexualidade é sinônimo de ato sexual. Algumas mulheres também relacionaram a sexualidade com imagem corporal e autoestima, e houve associação com afeto e amorosidade. As representações sobre relação sexual foram sempre positivas para os homens, inclusive para aqueles com disfunção sexual (DS) ou sem vida sexual ativa. Os homens descobriram sua sexualidade por meio da masturbação, no final da infância e início da adolescência, e, pouco depois, tiveram a primeira relação sexual. As mulheres, por sua vez, iniciaram a vida sexual mais tarde que os homens, geralmente no casamento ou pouco antes dele, tendo, portanto, menos experiências e menor número de parceiros. Nem todas as mulheres tiveram representações positivas relacionadas à sexualidade; a atividade sexual não foi considerada central em suas vidas, e foi frequentemente representada como obrigação em relação ao parceiro. A masturbação feminina é um tabu e, geralmente, não é praticada pelas mulheres, por acreditarem que precisam do companheiro para viver sua sexualidade. Os entrevistados, ao serem questionados sobre a existência de alterações na sexualidade após o adoecimento por diabetes ou HAS, relataram, inicialmente, não ter percebido nenhuma alteração. Porém, ao aprofundar o assunto, informavam situações e sinais e sintomas de disfunções sexuais, com os quais conviviam como se fizessem parte do ciclo natural da sexualidade.

As disfunções mais relatadas pelas mulheres foram:

diminuição da libido, diminuição ou perda da lubrificação e disfunção orgástica.

Pelos homens foram:

diminuição da frequência sexual e disfunção erétil. A idade, menopausa e problemas relacionados à vida, tais como violência, condições econômicas e criação familiar, foram relatados como principais fatores destas disfunções. A abordagem da saúde sexual no processo de cuidados nos serviços de saúde é quase inexistente, segundo os entrevistados, pois os profissionais não incluem informações sobre a vida sexual dos usuários como rotina do serviço. Quando o fazem, é de maneira pontual, superficial e tímida, ignorando a integralidade do cuidado. Os entrevistados, em sua maioria, consideram a abordagem da saúde sexual necessária e positiva, para melhorar suas vidas e como forma de prevenção de doenças e agravos. Os resultados apontam, portanto, que há uma negação da sexualidade e de sua problemática, tanto pelas pessoas que têm HAS e DM quanto pelos profissionais de saúde da atenção básica. Ao não abordarem a sexualidade, pelo eixo da saúde sexual, os profissionais mantêm o tabu sobre ela e negam a integralidade da atenção à saúde, sendo necessário adotar medidas que busquem a melhoria da formação dos profissionais, bem como a inserção do tema na rotina das ações nos serviços de saúde. (AU)
Non-communicable diseases (NCD) are some of the greatest healthy public issues. NCD are the main reason morbidity and mortality in the world and in Brazil. Among NCDs, can be highlighted Systemic Hypertension (SH) and Diabetes Mellitus (DM). SH and DM have a group of risk factors responsible for a large number of dies and for a substantial fraction of Brazilian population diseases. These diseases, besides changing corporal physiology and causing physical dysfunctions, affect and are affected by psychological and social conditions. That condition interferes directly and indirectly with the sexuality of people who has NCD. The interferences are originate by both diseases aspects and subjective aspects (such as corporal image, self-love and self-care), these aspects some times are neglected. The objective of this study was understand the ways of thinking of the people who has SH or DM about sexuality. It is a qualitative research based on Social Representations Theory, based on Alain Giami propositions. Deep and open interviews were made with 25 people that uses the Belo Horizonte primary health care services. The Structural Analysis of Narrative was processed with the software MAXQDA12 and used to expose the data content.

Final results were organized in two categories:

1) Representations of the subject about its sexuality; 2) Approach to sexual health in the health care process. There weren’t differences between the speeches of people with DM and SH. But there were differences between the discourses of male and female, showing the social norms influence in the sexuality people lifeway. In general study participants understand that sexuality is equal to sexual act. Some women related sexuality with corporal image and self-esteem, some participants related with affect and amorousness. The representation of sexual relations were always positive for men, included those who had sexual dysfunction or without an active sexual life. Men discover their sexuality through masturbation, between the end of childhood and start of adolescence, and shortly thereafter they use to have their first sexual relation. In the other hand, women uses to start their sexual life latter than men, generally when they get married or shortly before. In this way, they have less sexual experiences and partners than men. Not all women had positive representations about sexuality. Sexual life wasn’t central in their lives, and, frequently, their sexual lives were understood as obligation with their sexual partner. Female masturbation is also a taboo and usually it isn’t practiced by women, they believe that they need a partner to have their sexuality. When interviewees were asked about having sexuality alterations, they related not perceived any alterations. However, deepening into the subject, they informed sexual dysfunctions situations, signals and symptoms, in which they were living as a simple part of the sexuality natural cycle.

The most reported dysfunctions by women were:

libido reduction, lubrication reduction or loss, and orgasmic dysfunction.

The most reported by men were:

reduction of the sexual frequency and erectile dysfunction. Age, menopause, and problems related to life (as violence, economic conditions and family care), were reported as the mainly factors to begin those dysfunctions. There is almost no approach about sexual health in the process of health care services. According to interviewees, health professionals don’t put information about their sexual life in the users’ health forms. When they do, it is in a punctual way, superficially and timidly, ignoring the care integrality. Most of the interviewees consider necessary and positive the approach to sexual health. It can help them improve their lives and prevent diseases and injuries. Results show that exist a sexuality denial and its consequences, both by people who has SH or DH and by health professionals of basic health care. Not approaching to sexuality, health professionals keep taboo about it and deny integral health care. It is necessary to adopt measures that improve professional qualification and inserts the theme in health services actions routine.(AU)

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