Fatores associados à violência intrafamiliar e solidão entre adolescentes brasileiros

Publication year: 2019
Theses and dissertations in Portugués presented to the Universidade Federal de Minas Gerais. Escola de Enfermagem to obtain the academic title of Mestre. Leader: Malta, Deborah Carvalho

Nas últimas décadas observa-se um aumento dos problemas de violência e saúde mental entre os adolescentes, tornando-se as principais causas dos agravos à saúde dessa população.

Objetivo:

Identificar os fatores associados à violência intrafamiliar e ao sentimento de solidão vivenciados por adolescentes brasileiros.

Métodos:

Trata-se de um estudo transversal com análise de dados secundários da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE 2015), conduzida pelo IBGE, entre escolares de 13 a 17 anos das escolas públicas e privadas do Brasil. Foi realizada análise descritiva com cálculo da prevalência e intervalos de confiança a 95% da violência intrafamiliar contra o adolescente e do sentimento de solidão relatados pelos estudantes segundo as características sociodemográficas, contexto familiar, estilos de vida e saúde mental. Posteriormente, procedeu-se a regressão logística multinomial, calculando-se a Odds Ratio para a investigação do desfecho de sofrer violência intrafamiliar e a regressão de Poisson com cálculo da Razão de Prevalência para a investigação do desfecho de sentir solidão entre os adolescentes com as variáveis que apresentaram valor de associação p< 0,20 nas análises bivariadas. O nível de significância adotado foi de 5%.

Resultados:

5,7% (IC 95%: 5,1 – 6,4) dos adolescentes entrevistados relataram terem sofrido violência intrafamiliar uma vez e 7,6% (IC 95%: 6,7 – 8,5) relataram sofrer violência intrafamiliar mais de uma vez nos últimos 30 dias.

Maior chance de sofrer violência intrafamiliar mais de uma vez foi encontrada entre aqueles com as características:

cor da pele preta (ORa = 1,5; IC 95%: 1,1 – 2,0), ter insônia (ORa = 1,7; IC 95%: 1,3 – 2,1), sofrer bullying raramente ou às vezes (ORa = 1,5; IC 95%: 1,2 – 1,8), sofrer bullying na maior parte do tempo (ORa = 3,9; IC 95%: 2,8 – 5,3), fazer uso de cigarro (ORa = 2,2; IC 95%: 1,6 – 3,0) e consumir bebida alcoólica (ORa = 2,2; IC 95%: 1,7 – 2,7). Mostraram-se com menor chance de sofrer mais de uma vez a violência intrafamiliar adolescentes com idade entre 16 a 17 anos (ORa = 0,6; IC 95%: 0,5 – 0,8), do sexo feminino (ORa = 0,8; IC 95%: 0,6 – 1,0), cujas mães tinham ensino superior completo (ORa = 0,6; IC 95%: 0,5 – 0,9), que tinham pais compreensivos (ORa = 0,6; IC 95%: 0,5 – 0,7) e eram supervisionados por familiar (ORa = 0,5; IC 95%: 0,4 – 0,7). Em relação à solidão,15,5% (IC 95%: 14,5 – 16,6) dos estudantes brasileiros relataram esta condição nos últimos 12 meses. Ser do sexo feminino (RPa = 1,6; IC 95%: 1,4 – 1,9), a escolaridade materna de nível superior completo (RPa = 1,2; IC 95%: 1,1 – 1,4), ter insônia (RPa = 2,8; IC 95%: 2,5 – 3,2) e ser vítimas de bullying raramente ou às vezes (RPa = 1,5; IC 95%: 1,3 – 1,7) e na maior parte do tempo ou sempre (RPa = 1,9; IC 95%: 1,7 - 2,3) apresentaram maior razão de prevalência de sentir-se só nos doze meses anteriores à 7 pesquisa.Ter amigos (RPa = 0,6; IC 95%: 0,5 - 0,7), fazer refeição com pais ou responsáveis 5 dias ou mais na semana (RPa = 0,7; IC 95%: 0,6 – 0,8) e ter pais compreensivos(RPa = 0,5; IC 95%: 0,4 - 0,5) apresentaram menor razão de prevalência no relato de solidão entre os adolescentes.

Conclusão:

A violência intrafamiliar contra o adolescente está relacionada às condições de desigualdades sociais, uso de substâncias psicoativas, vivência de situações de violência no ambiente escolar e no contexto familiar. Já a solidão entre os adolescentes se associa ao sexo, ao apoio social e familiar, a violência intrafamiliar e a comportamentos de risco como o consumo de bebida alcoólica e bullying, tornando-se frequente nos relatos dos adolescentes. Deve-se investir em políticas voltadas para a promoção do bem estar físico e mental nessa faixa etária, como promover a relação de amizade e participação da família na vida dos adolescentes.(AU)

INTRODUCTION:

In the last decades, there has been an increase in the problems of violence and mental health among adolescents, becoming the main causes of the health problems of this population.

OBJECTIVE:

To identify the factors associated with intrafamily violence and the feeling of loneliness experienced by Brazilian adolescents.

METHODS:

This is a crosssectional study with secondary data analysis from the National Adolescent School-based Health Survey (PeNSE 2015), conducted by IBGE, among students aged 13 to 17 years of public and private schools in Brazil. Descriptive analysis was carried out with a calculation of the prevalence and 95% confidence intervals of intrafamily violence against adolescents and feelings of loneliness reported by students according to sociodemographic characteristics, family context, life styles and mental health. Subsequently, multinomial logistic regression was performed, calculating the Odds Ratio for the investigation of the outcome of suffering intrafamily violence and the Poisson regression with calculation of the Prevalence Ratio for the investigation of the outcome of feeling loneliness among adolescents with the variables which presented association value p <0.20 in the bivariate analyzes. The level of significance was 5%.

RESULTS:

5.7% (CI 95%: 5.1 - 6.4) of adolescents interviewed had suffered intrafamily violence at one time and 7.6% (95% CI: 6.7 - 8.5) related to violence more than once in the last 30 days.

The highest chance of suffering intrafamily violence was more than once among those with characteristics:

black skin color (ORa = 1,5, 95% CI: 1.1 - 2.0), having insomnia (ORa = 1.7; 95% CI: 1.3 - 2.1), suffer from bullying rarely or sometimes (ORa = 1,5, 95% CI: 1.2 - 1.8), suffer from bullying (ORa = 3,9, 95% CI: 2,8-5,3), make use of cigarettes (ORa = 2,2, 95% CI: 1,6-3,0) and consume alcoholic beverage (ORa = 2.2 95% CI: 1, 7-2.7). Compared with adolescents aged 16 to 17 years (ORa = 0.6, 95% CI 0.5-0.8), the female sex (ORa = 0.8, 95% CI: 0.6 - 1.0), whose mothers had completed tertiary education (ORa = 0.6, 95% CI: 0.5-0.9), who were comprehensive parents (ORa = 0.6, 95% CI: 0.5-0.7) and were supervised by relatives (ORa = 0.5; 95% CI: 0.4-0.7). Regarding solitude, 15.5% (95% CI: 14.5 - 16.6) of Brazilian students reported this condition in the last 12 months. Being female (RP = 1.6, 95% CI 1.4-1.9), the highest maternal level of education (RP = 1.2, 95% CI 1.1 - 1.4), having insomnia (RPa = 2.8, 95% CI: 2.5-3.2), and to be victims of bullying rarely or sometimes (RPa = 1.5; 95% CI: 1.3 - 1.7) and most of the time or always (RPa = 1.9, 95% CI: 1.7 - 2.3) had a higher prevalence rate of feeling only in the 12 months prior to the survey. Having friends (RPa = 0.6, 95% CI 0.5-0.7), having a meal with parents or guardians 5 days or more in the week (RPa = 0.7, 95% CI: 0.6-0 , 8) and having 9 comprehensive parents (RPa = 0.5, 95% CI: 0.4 - 0.5) had a lower prevalence ratio in the report of solitude among adolescents.

CONCLUSION:

Intrafamily violence against adolescents is related to the conditions of social inequalities, the use of psychoactive substances, the experience of situations of violence in the school environment and in the family context. Already the solitude among adolescents is associated with sex, social and family support, intrafamily violence and risk behaviors such as alcohol consumption and bullying, becoming frequent in adolescents' reports. It is necessary to invest in policies aimed at promoting physical and mental well-being of adolescents, such as promoting the relationship of friendship and family participation in adolescents' lives.(AU) I

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