Introdução:

A elevada morbilidade e mortalidade da infecção pelo SARS-CoV-2 em pacientes com doenças crónicas e o interesse despertado na compreensão da epidemiologia das Doenças Não Transmissíveis (DNTs) no nosso país constituem uma oportunidade para alargar a comunidade científica interessada na pesquisa nesta área e para alertar os decisores para a necessidade de envidarem esforços multissectoriais concertados para a prevenção e controlo destas doenças. Foi realizada uma revisão de informação produzida em Moçambique e de estimativas globais sobre carga de doença no país, com o objectivo de i) contribuir para o conhecimento sobre a epidemiologia, o perfil e o impacto das DNTs nas nossas comunidades, bem como para a tomada de decisões para sua prevenção e controlo baseados na evidência científica disponível; ii) suportar o desenho de políticas nacionais e a concepção de cuidados de saúde para doenças crónicas apropriados para o contexto moçambicano e iii) contribuir para alimentar um diálogo intersectorial que permita a prevenção e controlo das DNTs.

Metodologia:

Esta revisão bibliográfica utilizou publicações em revistas indexadas no PubMed sobre DNTs e trauma em Moçambique nos últimos 10 anos, bem como relatórios técnico-cientificos nacionais, incluindo o relatório da Comissão Nacional de Doenças Não Transmissíveis e traumatismos associadas à pobreza, publicado em Junho de 2018. Adicionalmente, foram usadas estimativas do Institute of Health Metrics and Evaluation (IHME) da University of Washington para o Global Burden of Disease (GBD) 2015, 2017 e 2019 para carga de factores de risco, epidemiologia e prognóstico de DNTs e Trauma (DNTTs).

Resultados:

Moçambique apresenta uma tendência crescente de incidência e prevalência de factores de risco e DNTs. Dentre os factores de risco mais importantes, estão a hipertensão arterial, a poluição por combustíveis de biomassa, o uso abusivo de álcool e infecções não controladas. O trauma, as doenças cardiovasculares e os distúrbios mentais são as condições mais importantes como causas de morbilidade, incapacidade e mortalidade. As DNTTs representam parte importante da carga de doença em Moçambique e causam uma elevada morbilidade, incapacidade e mortalidade em pessoas abaixo dos 40 anos. Constituem, por isso, um grave problema de saúde pública que ameaça a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde em Moçambique e comprometem o desenvolvimento humano e o alcance dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável.

Conclusão:

Apesar de largamente limitados a estudos hospitalares em regiões geograficamente restritos, os resultados de pesquisa mostram um peso crescente das DNTTs no perfil epidemiológico, na demanda de serviços no nosso país e na mortalidade.