Inquérito Nacional sobre Indicadores de Malária em Mocambique (IIM-2007)
Publication year: 2007
A malária ainda continua sendo um dos principais problemas de saúde pública em Moçambique. O
Ministério de Saúde através do Programa Nacional de Controlo da Malária delineou estratégias para a expansão
massiva de intervenções com o objectivo de acelerar a redução do peso da malária.
A avaliação sistemática destas intervenções, através de indicadores-chave é de extrema importância para
a monitorização dos resultados e consequentemente guiar na tomada de decisões para futuras estratégias
de implementação, bem como no ajuste das intervenções de prevenção e controlo da malária.
Este relatório apresenta os resultados do primeiro Inquérito sobre os Indicadores da Malária (IIM) em
Moçambique, realizado pelo Programa Nacional de Controlo da Malária em parceria com instituições nacionais
e estrangeiras, entre Junho e Julho de 2007, como parte da avaliação e estabelecimento de uma linha
de base de alguns indicadores malariométricos chave (propostos pela parceria Fazer Recuar a Malária
– FRM) ao nível das comunidades e ao nível dos agregados familiares.
O IIM de Moçambique foi desenhado de acordo com as recomendações gerais de IIM publicado pelo
Grupo de Referência de Monitoria e Avaliação (MERG) da FRM com algumas modifi cações necessárias para
se adequar a situação particular do país.
A amostra foi desenhada pelo Instituto Nacional de Estatística usando a amostra primária ou “mãe” que é
uma amostra grande, estratifi cada com três etapas de selecção usada no recenseamento geral da população
(RGPH) de 1997 e é usada para todos os inquéritos nacionais de agregados familiares em Moçambique.
Desta forma, 346 aglomerados com 5990 agregados familiares foram seleccionados dos 1510 aglomerados
da amostra primária.
O princípio de desenho da amostra é o de uma amostra de probabilidade representativa, estratifi cada de
modo a produzir estimativas para o país como um todo, as áreas rurais e urbanas em separado e pelos
principais domínios (províncias).
Um total de 5745 registos completos de agregados familiares foram usados para a análise fi nal, tendo-se
observado uma perda de apenas 4.1%. As amostras da análise também incluíram 5637 mulheres com idades
entre 15-49 anos, 589 mulheres grávidas e 1268 crianças com um episódio de febre nos últimos 14
dias anteriores à data do inquérito.
As principais áreas de estudo deste inquérito contemplavam a cobertura e uso de redes mosquiteiras
tratadas com insecticida de longa duração (RMILD); a cobertura com a pulverização intra-domiciliária; o
Tratamento Intermitente Presumptivo (TIP) na gravidez; prevalência da infecção malárica e anemia a ela
relacionada; a procura de cuidados de saúde e manejo da febre em crianças; e os conhecimentos da mulher
em relação à malária.
Em resumo, os principais resultados do inquérito foram os seguintes:
A cobertura de redes mosquiteiras ainda é muito baixa, estima-se em cerca de 15.8% a proporção de agregados
familiares com pelo menos uma rede mosquiteira (RMTI) e cerca de 18.5% a proporção de agregados
familiares com uma mulher grávida e/ou crianças menores de cinco anos de idade que possuem pelo
menos uma RMTI.
Em relação ao uso de redes mosquiteiras, a proporção de crianças menores de cinco anos de idade que
dormiu em baixo de uma rede mosquiteira na noite anterior ao inquérito foi de 6.7% enquanto que a proporção
de mulheres grávidas que dormiu debaixo duma rede mosquiteira na noite anterior ao inquérito
foi de 7.3%.
Programa Nacional de Controlo da Malária
Inquérito Nacional sobre Indicadores de Malária em Moçambique (IIM 2007)
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No que diz respeito à cobertura pela pulverização intradomiciliária, a proporção de casas pulverizadas nos
últimos 12 meses anteriores ao inquérito nos distritos-alvo foi de 52.4%. Esta cobertura ainda está longe
do desejado para se atingir uma protecção efi caz.
Em relação ao TIP, durante a gravidez, o inquérito mostrou que a proporção de mulheres que terminou
uma gravidez no ano anterior ao inquérito e que recebeu pelo menos duas ou mais doses de TIP durante
aquela gravidez foi de 20.3% e a proporção de mulheres que terminou uma gravidez no ano anterior ao inquérito
e frequentou a consulta pré-natal pelo menos duas vezes e que recebeu duas ou mais doses de TIP
durante aquela gravidez foi de 23.3%.
O inquérito mostrou que a prevalência da febre (temperatura axilar >37,5) foi de 9.7%. Aproximadamente
38.5% das crianças eram portadoras de parasita da malária. A proporção de crianças menores de 5 anos
com anemia (hb<11g/dL) foi de 67.7% e cerca de 11.9% apresentava uma anemia severa (hb<8d/dL). Em
relação às mulheres grávidas, 16.3% era portadoras de parasitas de malária, proporção com anemia foi de
48.1% e cerca de 5.1% tinha anemia severa.
Outro aspecto pesquisado foi a procura de cuidados médicos para o tratamento de episódios de febre
em crianças menores de cinco anos de idade. O inquérito mostrou que a proporção de crianças com
febre nas 2 semanas anteriores para as quais foi procurado tratamento em 24 horas foi de 36.3%, enquanto
que a proporção de crianças menores de cinco anos de idade com febre nas duas semanas anteriores,
que receberam qualquer tratamento para a malária em 24 horas após o início da febre foi de
17.6% e destas apenas 4.5% receberam tratamento com anti-maláricos combinados com derivados de
artemizinina.
Em relação ao conhecimento sobre a malária, a proporção de mulheres que sabe que a febre é o principal
sintoma da malária foi bastante alta cerca de 70.0%, mas somente 12.4% referiu que a anemia é um
sintoma importante da malária. Para o modo de transmissão da doença, 35.3% dos entrevistados relacionou
transmissão da malária apenas pelos mosquitos. Nas medidas de prevenção, somente 28.6% das
mulheres entrevistadas sabiam que as redes mosquiteiras são um meio de prevenção da malária, contudo
cerca de 60% das mulheres sabem que a mulher grávida e crianças menores constituem um grupo
de maior risco.
Com os resultados deste inquérito pode-se concluir que a malária e a anemia associada à malária ainda
constituem um problema de saúde pública, sobretudo nas comunidades rurais de Moçambique.
A procura de cuidados de saúde para crianças, especialmente aquelas com um síndrome febril ainda é
muito baixo e a maioria dos que procuram se têm suspeita de malária as unidades sanitárias ainda fazem
tratamento mono-terapêutico, apesar da política vigente que recomenda a combinação terapêutica com
derivados da artemisinina.
A maior parte das mulheres que zelam pela saúde da criança, não associam alguns sintomas importantes
da malária com a da doença, como por exemplo a anemia.
Na comunidade a falta de conhecimentos sobre a malária foi notória, sobretudo no modo de transmissão
e nos métodos de prevenção da doença. A posse de rede mosquiteira por agregado familiar é muita
baixa e menos de metade desses agregados familiares reportaram o uso da rede na noite anterior ao inquérito.
Este IIM fornece assim uma avaliação compreensiva das intervenções chave de cobertura e um marco
do progresso alcançado na expansão. Por ser o primeiro estudo do género, irá certamente fornecer linhas
de base para vários indicadores do Plano Nacional de Prevenção e Controlo da Malária período
2010 – 2014