Saberes sobre a malária: um estudo qualitativo baseado no Distrito do Lago, Província de Niassa (Moçambique – África)
Knowledge about malaria: a qualitative study based in the District of Lago District, Niassa Province (Mozambique - Africa)
Vittalle; 32 (3), 2020
Ano de publicação: 2020
Em Moçambique a malária é responsável por 60% de todas as admissões pediátricas, por 40% do total de consultas e ainda por 30% de todas as mortes registadas nos hospitais (2).Com vista a reverter esse cenário, o governo moçambicano, por intermédio do Programa Nacional de Combate à Malária (PCNM) e de parceiros, tem levado a cabo cções centradas no (i) controle do vector (através da distribuição de redes mosquiteiras e pulverização intradomiciliária), (ii) manejo adequado de casos e, por fim, (iii) campanhas de educação para a saúde. Com efeito, o país tem registado progressos na área de prevenção e manejo de casos de malária na população geral (3). A título ilustrativo, os dados obtidos nos Serviços Distritais de Saúde, Mulher e Ação Social do Lago revelaram uma redução dos casos de malária de 45,2% em 2016 para 40.7% em 2017. Recentemente, os dados do Inquérito Nacional sobre Indicadores de Malária (IIM) mostram que a percentagem de agregados familiares com pelo menos uma rede mosquiteira tratada com insecticida de longa duração para cada duas pessoas aumentou de 37,9% em 2015 para 51,0% em 2018 (3). Todavia, apesar desses avanços, os programas de controle da malária têm ainda enfrentado obstáculos relativos à mudança de comportamento por parte de certos indivíduos, o que concorre para que não se alcancem os objetivos plasmados. Por exemplo, no distrito do Lago, é visível o uso da rede mosquiteira em atividades voltadas, sobretudo, à pesca e à agricultura, num contexto em que a rede mosquiteira e o manejo de casos constituem as principais, se não as únicas, medidas de prevenção e de controle da malária disseminadas e providas pelas entidades da saúde. No sentido de reverter esse cenário, alguns autores (4,5) sugerem que as intervenções contra a malária sejam alicerçadas em evidências com base nos saberes e práticas locais ou, ainda, reflitam o conhecimento sistemático das percepções. Para tal, é necessário que haja um maior investimento e promoção de pesquisas em ciências sociais, em distintas regiões do país, para avaliar programas e serviços e documentar realidades ignoradas, particularmente as que se referem às representações, práticas e discursos (6). Essas representações e práticas espelham, no entender de Geertz (7), formas específicas de ver o mundo. No campo da saúde, Kleinman, citado por Rabelo, Alves e Souza (8) categorizou os saberes e práticas terapêuticas em três subsistemas, a saber: profissional, folk e popular. Assim sendo, o subsistema profissional é constituído pela medicina científica (ocidental), pelas profissões paramédicas reconhecidas ou pelos sistemas médicos tradicionais profissionalizados (chinês, ayurvédico, unãni etc.). O setor folk é composto pelos especialistas “não oficiais” da cura (curandeiros, rezadores, espiritualistas e outros). O popular, por sua vez, compreende o campo leigo, não especializado da sociedade (automedicação, conselho de amigo, vizinho, assistência mútua etc.). Partindo dessa perspectiva, o estudo objetivou compreender o modo como a população do Distrito do Lago percebe, previne e trata a malária. Ao indagarmo-nos sobre esses elementos, procuramos captar as motivações respeitantes à escolha do provedor, às medidas preventivas utilizadas e ao tratamento (4), ou simplesmente, as alternativas terapêuticas
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