Estudo nacional sobre a deficiência em iodo nas crianças dos 6 aos 12 anos de idade

Ano de publicação: 2006

Vários estudos sobre a deficiência em iodo foram feitos em Moçambique evidenciando a importância deste problema para a saúde pública. O mais recente foi em 1998, nas 4 províncias de Cabo Delgado, Manica, Gaza e Maputo, o qual indicou que dois terços das crianças em idade escolar tinham níveis baixos de iodo urinário e um quinto apresentavam bócio (Cabo Delgado 35%, Manica 18%). Medidas tomadas para lutar contra esta deficiência, que constitui a primeira causa mundial de danos intelectuais preveníveis, incluem a suplementação com cápsulas de óleo iodado às crianças e às mulheres em idade fértil, bem como a iodização do sal. Contudo, estes programas estão ainda longe de alcançar suas metas. O presente estudo, o primeiro de âmbito nacional, permite delinear uma apreciação completa da deficiência em iodo em Moçambique, e fazer recomendações abrangentes para o controlo deste importante problema de saúde pública. Consequentemente, torna-se difícil estabelecer comparações com estudos anteriores para verificar mudanças. No mês de Outubro de 2004, foram inquiridos 10,122 alunos com idade compreendida entre os 6 e 12 anos, frequentando 318 escolas do ensino primário distribuidas pelo país inteiro. Para além de serem examinados para a detecção do bócio, entregaram também uma amostra da sua urina, assim como uma amostra do sal consumido nas suas casas. Este relatório apresenta os resultados referentes à distribuição do bócio e deficiência em iodo no país. Contudo, uma versão final do mesmo deverá esperar os resultados da análise do sal recolhido durante o inquérito. A prevalência de bócio no país foi estimada em 15%. Niassa apresentou o valor mais alto (36%), seguido por Zambézia, Nampula (ambos 24%), e Tete (11%). Mesmo na cidade de Maputo, uma prevalência de 10% de bócio foi registada. Devemos lembrar contudo, que a estimativa da prevalência do bócio simplesmente através da palpação é bastante subjectiva. As taxas encontradas são similares para rapazes e meninas, e também entre as diversas idades inquiridas. A diferença entre zonas urbanas (10%) e rurais (16%) é marginalmente significativa. Contudo, a diferença entre as populações vivendo a 2000 pés (610m) de altitude ou mais, com aquelas que vivem em zonas mais baixas é altamente significativa (23% vs 13% respectivamente). As terras das zonas altas são conhecidas por serem muitas vezes pobres em iodo, o que resulta numa dieta também carente neste micronutriente, a não ser que o sal consumido seja fortificado com iodo. Os valores do iodo urinário fornecem uma informação mais segura sobre a extensão do problema de deficiência em iodo do que as taxas de bócio. Dados válidos de iodo urinário foram obtidos para 9,165 alunos. A mediana nacional estimada de iodo urinário é de 60mg/L, com valores de 28mg/L e 147mg/L para os percentis 20 e 80 respectivamente. Isto classifica Moçambique como tendo uma ligeira deficiência em iodo. Contudo, 3 províncias apresentaram níveis inferiores a 50m/L, o que as classifica como tendo deficiência moderada. Estas são Niassa (37mg/L), Zambézia (47mg/L) e Nampula (47mg/L). Mais uma vez, existem poucas diferenças entre os sexos e as idades. Contudo, as zonas rurais apresentam uma mediana muito mais baixa (54mg/L) do que as zonas urbanas (90mg/L). As populações vivendo a 2000 pés de altitude ou mais também tem uma mediana mais baixa de iodo urinário (44mg/L) em relação aos que vivem em zonas mais baixas (64mg/L). Na base da nossa amostra, estima-se que cerca de 17% da população Moçambicana vive nestas zonas mais altas, Niassa apresentando as mais altas percentagens (92%), seguida por Tete (34%), Zambézia (28%), Manica (24%) e Nampula (10%). Uma outra forma de apresentar os resultados de iodo urinário é de estimar a proporção da população que se encontra abaixo ou acima de certos valores determinados. Mais de dois terços (68%) da população Moçambicana fica abaixo de 100mg/L, enquanto 12% se encontra abaixo de 20mg/L. Estes resultados são compatíveis com aqueles do estudo sub-nacional de 1998. Por outro lado, 7% da população apresenta taxas de iodo urinário acima de 300mg/L, o que é considerado excessivo, e 3% acima de 500mg/L. Como já mencionado, amostras do sal consumido nas casas foram recolhidas dos alunos participando no inquérito. Os resultados ainda não são disponíveis e serão integrados na versão final deste relatório. Contudo, segundo os resultados do Inquérito Demográfico e de Saúde de 2003, a província de Tete tem a cobertura mais alta de todo o país com 69% dos aglomerados familiares consumindo sal iodizado. Isto talvez explica a mudança favorável observada na prevalência de bócio na província de Tete em relação a estudos anteriores. Na base dos resultados deste inquérito, recomenda-se o seguinte: 1 Como estratégia mais sustentável e económica para o país, a iodização universal do sal produzido e comercializado em Moçambique é a opção mais recomendada considerando os níveis de deficiência encontrados. 2 Uma vez que a legislação que obriga a iodização universal do sal produzido e comercializado em Moçambique já foi aprovada desde o ano 2000, recomenda-se urgentemente que medidas sejam tomadas para o seu cumprimento. Visto esta ser um estratégia que leva tempo a ser integralmente implementada, devido às condições do país, outras medidas de intervenção mais rápidas poderam ser consideradas como a seguir indicado. 3 Como estratégia geral de curto prazo, recomenda-se a distribuição de cápsulas de oleo iodado às crianças menores de cinco anos e às mulheres em idade fértil nas províncias com deficiência de iodo moderada, nomeadamente Niassa, Zambézia e Nampula. Esta estratégia poderá ser implementada por um periodo de 2 a 5 anos, enquanto que a estratégia principal vai sendo consolidada. Considerando os elevados custos financeiros e aspectos operacionais para a implementação da estratégia anterior, recomenda-se a distribuição de cápsulas na rotina através das consultas da criança sadia e consultas pré-natais nas três províncias mencionadas. Para além disto, dado que a província de Niassa apresenta maior deficiência, recomenda-se a realização duma campanha geral nesta província de modo a abranger todo o grupo étario de crianças dos zero aos quatorze anos, assim como as mulheres em idade fertil dos 15 aos 49 anos, incluindo grávidas. Mais detalhes sobre certos custos envolvidos na implementação das recomendações feitas acima são descritos na secção 5 deste relatório.
Several studies on iodine deficiency have previously been done in Mozambique, showing the importance of this public health problem. The most recent study was done in 1998 in the four provinces of Cabo Delgado, Manica, Gaza and Maputo, and showed that two third of the school-aged children had low levels of urinary iodine and one fifth had goitre (Cabo Delgado 35%, Manica 18%). Some of the measures taken to combat this deficiency, the leading cause of preventable intellectual damages worldwide, include the distribution of iodized oil capsules to children and to women of reproductive age, as well as salt iodization. However, these programmes are far from having reached their targets yet. The present study, the first to be done at national level, provides a complete overview on iodine deficiency in Mozambique, and permits to make comprehensive recommendations for the control of this important public health problem. Comparisons with previous studies in order to assess change are consequently limited. In October 2004, 10,122 students aged 6 to 12 years, frequenting 318 primary schools throughout the country, were surveyed. Besides being examined for goitre, they provided a urine sample, as well as a sample of the salt being consumed in their homes. This report presents the results on the prevalence of goitre and iodine deficiency in the country. A final version will be circulated once the findings related to the salt analyzes are available. The overall prevalence of goitre in the country is estimated at 15%. Niassa presents the highest values (36%), followed by Zambézia, Nampula (both 24%), and Tete (11%). Even the city of Maputo shows a goitre prevalence of 10%. It should, however, be remembered that estimating goitre prevalence based on palpation alone is quite subjective. The prevalence found in boys and girls is similar, as it is between the various ages surveyed. The difference between the urban (10%) and rural (16%) areas is border significant. However, the difference between populations living at an altitude of 2000 feet (610m) or above, in relation to those living at a lower altitude, is highly significant (23% vs. 13%, respectively). Soil at high altitude is known often to be poor in iodine, which in turns leads to a diet poor in this micronutrient, unless the salt being consumed is enriched with iodine. Urinary iodine provides more reliable information regarding the extent of iodine deficiency than the prevalence of goitre. Valid urinary iodine results were obtained from 9,165 students. The estimated national median of urinary iodine is 60mg/L, with values of 28mg/L and 147mg/L for the percentiles 20 and 80 respectively. This classifies Mozambique overall as mildly deficient in iodine. However, 3 provinces present results below 50mg/L, classifying them as moderately deficient. These are Niassa (37mg/L), Zambézia (47mg/L) and Nampula (47mg/L). Here again, the differences between boys and girls, and between age groups are small. However, the rural areas show much lower levels (54mg/L) than the urban areas (90mg/L). The populations living at an altitude of 2000 feet or more also have a lower urinary iodine median (44mg/L) than those living at lower altitude (64mg/L). On the basis of our sample, it is estimated that about 17% of the Mozambican population lives in those higher altitude areas, the highest proportion being in Niassa (92%), followed by Tete (34%), Zambézia (28%), Manica (24%) and Nampula (10%). Another way to present urinary iodine results is to estimate the proportion of the population lying below or above certain specific values. Over two third (68%) of the Mozambican population has levels of urinary iodine below 100mg/L, while 12% has less than 20mg/L. These results are compatible with those of the 1998 sub-national study. On the other hand, 7% of the population shows urinary iodine levels above 300mg/L, which is considered excessive, and 3% above 500mg/L. As previous indicated, samples of the salt consumed in the households of the students enrolled in the study were collected. Results are not yet available and will be included in the final version of this report. Nonetheless, in accordance with the results of the 2003 Demographic Health Survey, the province of Tete has the highest coverage, with 69% of the households consuming iodized salt. This could explain the favourable changes in the prevalence of goitre observed in this province in comparison with previous studies.

The following recommendations are made on the basis of this study:

As a sustainable and economically sound national strategy, the universal iodization of the salt produced and commercialized in Mozambique is the most viable option for the current levels of deficiency. Since the legislation making obligatory the universal iodization of the salt produced and commercialized in Mozambique has already been approved since 2000, it is recommended that measures for its effective enforcement be urgently taken. Since such a strategy will take some time to be fully implemented in the current conditions of the country, other short term interventions should be considered as presented below. As a general short term strategy, the administration of iodized oil capsules is recommended to children under five years and women of reproductive age in the three provinces with moderate iodine deficiency, i.e. Niassa, Zambézia e Nampula. This strategy could be pursued during a period of 2 to 5 years, while the main strategy is being consolidated. Given the high cost and operational difficulties related to the previous recommendation, it is specifically recommended that iodized oil capsules be routinely distributed at the healthy children and prenatal consultations taking place in the three provinces previously indicated. Moreover, given the fact that the province of Niassa shows the highest level of iodine deficiency, it is recommended that a campaign be organized in this province targeting all children zero to fourteen years of age, as well as women of reproductive age 15 to 49 years, including those that are pregnant. More details on some of the costs involved in the implementation of the above recommendations are provided in section 5 of this report.

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