Vulnerabilidade de género e infecção pelo HIV: percepções de pessoas vivendo com HIV/AIDS e de profissionais de saúde da cidade de Maputo, Moçambique

Ano de publicação: 2014
Teses e dissertações em Português apresentado à Universidade de Brasília - Instituto de Psicologia para obtenção do título de Doutor. Orientador: Seidl, Eliane Maria Fleury

Em Moçambique, segundo estudo do Instituto Nacional de Saúde publicado em 2009, embora se observe uma tendência à estabilização, a prevalência do HIV/aids na população adulta de 15-49 anos é de 11,5%, sendo superior nas mulheres (13,1%), comparativamente aos homens (9,2%). Outro aspecto da sociedade moçambicana é que a construção social do gênero feminino está baseada na submissão ao homem, na sua inferioridade e na incapacidade de garantir direitos iguais para ambos os sexos. Esse contexto tem influência sobre as práticas preventivas e sobre a vulnerabilidade de gênero à infecção pelo HIV. Destaca-se ainda a presença de práticas culturais arraigadas que também exercem influência sobre a prevenção e o tratamento da aids em pessoas já infectadas. A presente pesquisa teve como objetivo analisar a percepção de pessoas vivendo com HIV/aids (PVHA) e de profissionais de saúde (PS), da cidade de Maputo, em relação à vulnerabilidade de género e infecção pelo HIV, explorando ainda aspectos da cultura tradicional e a pobreza como fatores de vulnerabilidade. O estudo incluiu trinta e três PVHA em três grupos focais e em entrevistas individuais, e quinze PS entrevistados. Roteiros para grupos focais e de entrevista elaborados para o estudo foram usados para a coleta de dados. A análise de dados seguiu procedimentos de análise de conteúdo.

Cinco eixos temáticos nortearam a análise dos resultados:

vulnerabilidade de gênero e infecção pelo HIV; pobreza e vulnerabilidade de infecção pelo HIV; práticas culturais; papel de lideranças comunitárias, políticas e religiosas na luta contra o HIV/aids; aspectos positivos e negativos da assistência a pessoas vivendo com HIV/aids na cidade de Maputo. A quase totalidade dos participantes argumentou que a vulnerabilidade da mulher é maior, delineando categorias como submissão da mulher, dificuldade de negociar o uso do preservativo e influência das práticas culturais. Grande parte dos participantes reconheceu haver relação entre pobreza e infecção pelo HIV, e que práticas culturais calcadas na tradição ampliam contextos de risco de infecção. No que tange à assistência, houve predomínio de relatos referentes a aspectos negativos, com destaque para as categorias incapacidade do Sistema Nacional de Saúde para responder à demanda e escassez de recursos humanos, medicamentos, materiais e infraestrutura. O estudo teve o mérito de levantar percepções de dois segmentos sociais implicados na questão do HIV/aids, o que permitiu compreender melhor o contexto de vulnerabilidades que afetam cidadãos de Maputo em um país de prevalência elevada da epidemia.

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