Desenvolvimento comunitário em Moçambique: contribuição para a sua compreensão crítica

Ano de publicação: 2007

O livro que António Álvaro Francisco aqui apresenta é uma obra de fôlego e de coragem. De fôlego, porque apresenta uma vasta gama de aspectos analíticos e empíricos sobre uma área muito pouco conhecida no nosso Pais e consequentemente muito escamoteada, que é o desenvolvimento comunitário. É de coragem porque revela, de forma critica, como o próprio titulo promete (e cumpre), os vários elementos subjacentes 4 enorme teia de interesses e relações entre os vários actores envolvidos no desenvolvimento comunitário, nos âmbitos nacional e internacional. Neste ponto, o autor veste a capa do cientista interventivo e do desvendar deste campo assume uma postura de quase denúncia em relação aos diversos descaminhos, propositados ou involuntários, que caracterizam a intervenção tanto dos poderes públicos instituídos, como dos profissionais da área e, porque não, dos próprios beneficiários. Dessas denuncias, uma das mais flagrantes é a assunção, manifestamente equivocada, de que as ciências sociais são um campo em que qualquer um se pode aventurar, bastando apenas algumas leituras. Com certeza estará na mente de muitos a quantidade de estudos e consultorias que acabam engavetados ou são de implementação inviável, alguns deles envolvendo avultadas somas de dinheiro, que bem poderiam ter sido usados para fins mais úteis. A outra, que decorre do diletantismo que grassa na área, é a uniformização das a abordagens do desenvolvimento comunitário, que não levam em conta a cultura, que dita a forma de ver o mundo e particulariza os aspectos da realidade social. Nesta óptica, o livro mostra que o desenvolvimento comunitário deve ser visto como a forma particular de desenvolvimento, devidamente contextualizada no meio social e geográfico para o qual se destina. De outra forma, será um mero formalismo, reflectido naquilo que, recorrendo as palavras do autor, é um mero “exercício de rituais autoritários e burocráticos perante a população’, que ao invés de resolver os problemas existentes pode até acirra-los. Esta dinâmica perversa, subjacente as intervenções na área do desenvolvimento comunitário, desvirtua a essência dos objectivos definidos no combate 4 pobreza a escala mundial e nacional, reflectidos nos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio e que entre nós estão inseridos no Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta (o PARPA II),comprometendo, consequentemente, 0 alcance dos mesmos.

O autor desta obra tem uma rara e dupla vantagem:

é profissional da área há bastante tempo, tendo inclusive ocupado posições de direcção e chefia de âmbito nacional; por outro lado, tem formação académica de base na área de serviço social, complementada por um Mestrado, do qual esta obra deriva....

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