Estratégias de coping das pessoas vivendo com HIV e SIDA em tratamento antiretroviral que frequentam o centro de saúde da Polana Caniço na cidade de Maputo
Ano de publicação: 2013
Teses e dissertações em Português apresentado à Universidade Eduardo Mondlane para obtenção do título de Mestre. Orientador:
Ao longo de algumas décadas, a epidemia do HIV e SIDA tornou-se num ícone de grandes questões que afligem o mundo devido a sua dinâmica que configura suas manifestações de acordo com as características culturais e sócio demográficas em diferentes populações.
O HIV e SIDA constitui um dos grandes problemas de saúde pública no plano mundial, ameaça a vida de milhões de pessoas e desafia a formulação de políticas de saúde, educação e desenvolvimento. Acredita-se que ao conhecer como as pessoas enfrentam o HIV e SIDA possa orientar os profissionais em estratégias de intervenção psicológica e programas de prevenção e promoção de saúde, de modo a controlar a proliferação do HIV.
OBJECTIVO:
A pesquisa pretendeu identificar as estratégias de coping utilizadas pelas PVHS em TARV de acordo com as suas condições sócio demográficas (sexo, idade, nível de escolaridade, ocupação, estado civil, zona de residência e condição socioeconómica).MÉTODOS:
Para a concretização do objectivo proposto foi imprescindível a realização de uma pesquisa mista com duas partes (quantitativa e qualitativa), sendo, observacional transversal analítica e qualitativa com enfoque fenomenológico usando o referencial teórico de Merleau-Ponty, no período de Abril à Setembro de 2012 à uma amostra selecionada sistematicamente. A recolha de dados quantitativos foi feita com recurso ao questionário sócio demográfico e à Escala Modos de Enfrentar Problemas-EMEP (dados resultaram das respostas dos participantes na escala Likert da EMEP). Os dados qualitativos foram recolhidos usando os mesmos questionários, o sócio demográfico e a Escala Modos de Enfrentar Problemas (dados obtidos através dos relatos verbais dos participantes ao responderem as questões da EMEP e obtidos também através da pergunta aberta patente na EMEP). Os dados recolhidos através da EMEP (em escala de Likert) foram analisados quantitativamente, e os obtidos através dos relatos verbais dos participantes e da pergunta aberta da EMEP foram analisados qualitativamente.RESULTADOS:
Foi estudado um total de 393 PVHS em TARV, sendo, 121 homens e 272 mulheres com idades compreendidas entre 22 à 73 anos (Média=37,2 e Desvio Padrão=9,6). Os resultados obtidos através da abordagem quantitativa indicaram maior utilização das estratégias de coping focalizado no problema e focalizado na busca de práticas religiosas e menor utilização das estratégias de coping focalizado na emoção e de busca de suporte social. Em pessoas casadas ou que 12 viviam em união de factos, pessoas sem nenhum nível instrução ou com nível primário de educação, pessoas que viviam na zona suburbana da cidade de Maputo e pessoas que pertenciam ao nível de riqueza baixo verificou-se maior predominância das estratégias de coping focalizado no problema e focalizado na busca de práticas religiosas se comparadas com as pessoas com nível secundário ou superior, pessoas que viviam na zona urbana da cidade de Maputo e em pessoas com nível de riqueza mais elevado. Os resultados obtidos por meio da abordagem qualitativa evidenciaram as razões para a maior utilização das estratégias de coping focalizado no problema e focalizado na busca de práticas religiosas pelas PVHS em TARV e trouxeram também novas estratégias de coping como o conformismo, entendido como a aceitação do seroestado embora as adversidades da doença por vezes não o permitissem, a estratégia de coping focalizado na fuga/esquiva do estigma e discriminação perpetrados pela sociedade contra as PVHS, e a estratégia de coping focalizado na busca do suporte familiar, que veio suportar os achados da infrequente utilização da estratégia de coping focalizado na busca de suporte social medidos através da abordagem quantitativa.CONCLUSÃO:
Desta pesquisa pode-se concluir que a maior parte das PVHS em TARV elaboravam estratégias de coping que visavam superar ou aliviar as tensões originadas pela seropositividade (coping focalizado no problema e coping focalizado na busca de práticas religiosas). A utilização simultânea dessas duas estratégias de coping se confluiu para a apropriação de mecanismos para a apresentação de uma melhor vivência com a seropositividade. Um pouco mais da metade de PVHS em TARV recorria a estratégia de coping focalizado na fuga ou esquiva do estigma e discriminação como solução para enfrentar o stressor, através da busca de cuidados de HIV e SIDA existentes nas Unidades Sanitárias próximas das suas residências em locais distantes, esta estratégia baseava-se no intuito de se protegerem do preconceito gerado pelo meio social a que pertenciam. A pesquisa mostra também que o medo pelo estigma e discriminação condicionou com que uma grande maioria de PVHS em TARV buscassem unicamente pelo suporte familiar como estratégia para contar com apoio de outrem para ajudar a enfrentar as adversidades relacionadas com a seropositividade em detrimento da utilização da estratégia de coping focalizada no apoio que a sociedade pudesse oferecer.RECOMENDAÇÕES:
Apesar da utilização do coping focalizado na emoção ter sido reportada em menor frequência, a pesquisa fornece subsídios para intervenção psicológica tratando-se de pessoas seropositivas. Outrossim, são avançadas algumas recomendações que ajudariam a minimizar o medo pelo preconceito social que emperra a busca pelo apoio em redes de relações sociais e a busca de cuidados de HIV e SIDA de forma condigna isenta de estigma e discriminação social.
Over a few decades, the HIV/AIDS epidemic has become an icon of major issues facing the world due to its dynamics manifested according to cultural and socio-demographic characteristics in different populations.
The HIV and AIDS epidemic is one of major public health problem on a global scale, threatening the lives of millions of people and challenging health, education and development policy making. It is believed that knowing how people face HIV and AIDS can guide practitioners in designing psychological intervention strategies and programs for health prevention and promotion, in order to control the spread of HIV.