Avaliação do cumprimento do algoritmo para o diagnóstico precoce infantil do HIV e conduta clínica dos casos pós diagnóstico nas Unidades Sanitárias da cidade de Maputo em 2015

Ano de publicação: 2018
Teses e dissertações em Português apresentado à Universidade Eduardo Mondlane para obtenção do título de Mestre. Orientador:

A transmissão vertical é a principal via de infecção pelo Virus de Imunodeficiência Adquirida (HIV) em crianças e pode ocorrer durante a gestação (10-25%), durante o parto (35-50%), ou depois do parto através do aleitamento materno (20-25%). Na ausência de Tratamento Anti-Retroviral (TARV) até 50% dos lactentes infectados morrem antes de atingir dois anos de idade. O diagnóstico precoce infantil (DPI) permite identificar crianças infectadas por HIV antes do desenvolvimento da doença, de modo a que o tratamento seja feito de forma atempada. O cumprimento algoritmo nacional para o DPI do HIV é importante para identificação e tratamento das crianças positivas. Este estudo teve como objectivo, avaliar o cumprimento do algoritmo para o DPI e identificar factores associados a não cumprimento do mesmo em Unidades Sanitárias (US) da Cidade de Maputo no ano de 2015.

Métodos:

O estudo foi de corte transversal. A recolha de dados foi feita de Fevereiro a Maio de 2016. Dados referentes a identificação e proveniência do paciente, data de colheita da primeira amostra, positividade, entre outros foram extraídos usando um formulário de recolha de dados, a partir da Base de Dados electrónica do Laboratório de Virologia Molecular (LVM) do INS. Posteriormente, foram feitas visitas às 24 US de proveniência destes pacientes de modo a confirmar os dados e colher dados adicionais relacionados a recepção do primeiro resultado pela US, pelas mães/cuidadores e início do tratamento. Foi considerado como não cumprido o algoritmo a não observância de pelo menos uma das etapas do algoritmo do DPI. Todas as variáveis foram analizadas para as estatísticas descritivas e inferenciais recorrendo ao teste de qui-quadrado (X 2 ) e regressão logística a um intervalo de confiança a 95%.

Resultados:

Foram revistos 410 registos de crianças menores de 18 meses que tiveram pelo menos um teste positivo em 2015. Cerca da metade das crianças que fizeram parte do estudo (50.7%) realizaram o 1º teste do DPI até as 6 semanas, mas apenas 152 (37.0%) foram confirmados pelo 2º teste. Do total das crianças que fizeram parte do estudo, (84.9%) não teve o algoritmo cumprido. Testar antes das 6 semanas, a mãe/cuidador receber os resultados e iniciar TARV foram estatisticamente associados ao não cumprimento do algoritmo (76.7%, p=<0.0001; 92.0%, p=<0.0001 e 63.9%, p=<0.0001) respectivamente. Mais de metade (52.7%) das crianças no estudo não tinha iniciado o TARV até a data da nossa visita às US, embora o resultado esteja disponível. Dos que entraram para o TARV, os factores estatisticamente associados, foram a US e a mãe/cuidador receberem os resultados positivos do 1º teste (OR= 0.448; IC a 95% 0.238-0.841 e OR= 0.537; IC a 95% 0.337-0.856) respectivamente. Sessenta e cinco vírgula sete porcento das amostras foi processada até 30 dias para o 1º teste, mas a maior parte chegam acima de 30 dias às US. Uma criança com 1º teste positivo e em TARV, tem uma chance inferior de 0.995 (p= 0.042; IC a 95% 0.989-0.999) de receber o resultado de confirmação e a cada dia que o Tempo de Resposta Laboratorial (TRL) aumenta para o teste de confirmação, a criança tem a chance inferior de 0.995 (p= 0.042; IC a 95% 0.989-0.999) de ter o algoritmo cumprido.

Conclusão:

Apesar da maior parte das crianças realizar atempadamente o DPI, muitas não são devidamente seguidas e não iniciam o TARV mesmo com resultado de diagnóstico positivo. Há muitas falhas na cascata do algoritmo nacional do DPI que se refletem em perdas de seguimento dos pares mãe-filho. Devem-se rever as estratégias para fortalecer o seguimento das crianças para diminuir as altas taxas de mortalidade infantil relacionadas ao HIV
Vertical transmission is the main route of infection by Acquired Immune Deficiency Virus (HIV) in children and can occur during pregnancy (10-25%), during delivery (35-50%), or after delivery through breastfeeding (20-25%). In the absence of antiretroviral treatment (ART) up to 50% of infected infants die before reaching two years of age. Early Infant diagnosis (EID) allows identifie HIV-infected children before the disease develops, so that treatment has to be done timely manner. Compliance with the national EID algorithm is important to identifying and treating positive children. The objective of this study was to evaluate compliance with the EID algorithm and to identify factors associated with non- compliance in the Health facilities (HF) of Maputo City in the year 2015.

Methods:

The cross-sectional study was carried from February to May 2016. Data referring to patient identification and provenance, date of collection of the first sample, positivity, among others were extracted from the electronic database of the National Institute of Health (INS), Molecular Virology Laboratory, using a data collection form. Subsequently, visits were made to the 24 health facilities (HF) were collected sample for Polimerase Chain Reaction tests, in order t o confirm the data and to collect additional data referred to the receipt of the first result by the HF, by the mothers or caregivers and beginning of the treatment. The non-compliance was defined as non-observance of one of the steps of the algorithm. All variables were analyzed for descriptived and inferential statistics using the chi-square test (X 2 ) and logistic regression at a 95% confidence interval.

Results:

410 records of children under 18 months old who had at least one positive test were reviewed in 2015. About half of the children who participated in the study (50.7%) performed the first EID test up to 6 weeks, but only 152 (37.0%) were confirmed by the 2 nd test. Of the total of the children participated in the study, (84.9%) did not have the algorithm complied. Testing before 6 weeks, the mother/caregiver receiving the results and initiating ART were statistically associated with non-compliance with the algorithm (76.7%, p = <0.0001, 92.0%, p = <0.0001 and 63.9%, p = <0.0001) respectively. More than half (52.7%) of the children in the study did not started ART until the date of our HF visit, although the results were available. Of those who entered on ART, the statistically associated factors were HF and the mother/caregiver received the positive results from the 1 st test (OR = 0.448, 95% CI 0.238-0.841 and OR = 0.537, 95% CI 0.337- 0.856) respectively. Sixty-five point seven percent of the samples were processed up to 30 days for the 1 st test, but most arrived at over 30 days at the HF. A child with a 1 st positive test and in ART has a lower chance of 0.995 (p = 0.042, 95% CI 0.989-0.999) to receive the confirmation result (2 nd test) and each day that TAT increases for the 2 nd test, the child has a lower chance of 0.995 (p = 0.042, 95% CI 0.989 -0.999) to have the algorithm complied.

Conclusion:

Although most children perform the EID timely, many are not properly followed and not initiate ART even with a positive test result. There are many failures in the cascade of the national EID algorithm, which reflected in the loss to follow-up of mother-child pairs. Strategies for strengthening the follow-up of the pair’s mother-child to reduce high rates of HIV related deaths should be reviewed

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