O Sarampo continua sendo a causa primária de mortes evitáveis em doenças imuno-preveníveis, em crianças menores de 5 anos, nos países em desenvolvimento. Neste âmbito foram identificados 47 países prioritários, entre os quais Moçambique, para implementação de actividades com vista à redução da mortalidade e a eliminação desta doença. Porém, o fortalecimento da vigilância da doença e o registo da causa específica de morte continuam sendo dos maiores desafios em muitos destes países. Em Moçambique, a vigilância do Sarampo está integrada no sub-sistema de notificação obrigatória de doenças transmissíveis para todas as Unidades Sanitárias - Boletim Epidemiológico Semanal (BES), que notifica rotineiramente os casos e óbitos. Apesar do investimento realizado desde a sua introdução, a pesquisa operacional realizada tem revelado fraquezas referentes à notificação atempada, completa e exacta/coerente. Este trabalho teve como objectivo contribuir para a melhoria do rastreio do Sarampo ao nível distrital tendo em conta as fraquezas e os pontos fortes do ciclo de informação do BES. Entre Setembro e Dezembro de 2006, realizou-se um estudo de caso, combinando métodos de pesquisa qualitativos e quantitativos, que incluiu a revisão de documentos e de registos, observação de práticas de trabalho, entrevistas a trabalhadores em 6 Unidades Sanitárias dos Distritos de Boane e Moamba e entrevistas a informantes chave. O ciclo de informação do Sarampo observado nas Unidades Sanitárias comportava as atividades de rotina preconizadas. A sua implementação pode ser feita através de normas, procedimentos e instrumentos padronizados. Contudo, entre vários aspectos, verificaram-se irregularidades no preenchimento dos Livros de Registo e, em relação aos casos de Sarampo, o registo incompleto das variáveis “idade” e “estado vacinal”; desconhecimento e/ou não utilização dos instrumentos de Vigilância Epidemiológica nas Unidades Sanitárias, associado à sua ruptura de stock. Encontraram-se discrepâncias entre casos de Sarampo inscritos nos instrumentos e nas diferentes etapas do manuseio de informação, com a sua consequente sub e sobre-notificação. Verificou-se que os trabalhadores não tinham percepção sobre o valor dos dados de Sarampo e que estes não eram usados para a detecção precoce de surtos, planificação ou tomada de decisões. Os trabalhadores não estavam motivados para as actividades de vigilância. Recomenda-se a revisão das normas e procedimentos de Vigilância Epidemiológica do Sarampo e de outras doenças de notificação obrigatória, notificadas através do BES; o treino, capacitação e supervisão dos trabalhadores ligados à Vigilância Epidemiológica de rotina das doenças de notificação obrigatória; o estabelecimento de um mecanismo padronizado para o controle de qualidade de dados nas diferentes fases do ciclo de informação; a revitalização dos núcleos distritais de Vigilância Epidemiológica; a melhoria de alguns aspectos organizacionais; e a institucionalização de incentivos profissionais aos trabalhadores de saúde ligados à Vigilância Epidemiológica