Contaminação Fecal Humana nos Mangais Peri-Urbanos de Maputo (Costa do Sol e Ponta Rasa) e suas Consequências para a Saúde Pública
Ano de publicação: 2008
Teses e dissertações em Português apresentado à Universidade Eduardo Mpndlane para obtenção do título de Mestre. Orientador: Elena Folgosa (PhD)
O presente trabalho teve como objectivo principal avaliar a contaminação microbiológica dos mangais peri-urbanos de Maputo e suas consequências para a saúde pública. Dois locais diferentes foram definidos, um na Cidade de Maputo (mangal da Costa do Sol) e outro na Ilha de Inhaca (mangal da Ponta Rasa). A escolha dos locais teve em conta a situação geográfica, a densidade populacional e o impacto do uso populacional dos recursos do mangal. Para a quantificação das bactérias indicadoras de contaminação (coliformes totais e fecais e Escherichia coli); usou-se o método de tubos múltiplos para a determinação do número mais provável de microorganismos por 100ml (NMP/100ml). Com o objectivo de avaliar os riscos de infecção (sintomas e doenças) por agentes patogénicos existentes no ecossistema do mangal e, por outros factores relacionados com a exposição às águas mangais, 378 pessoas residentes ao redor do mangal, com idades entre os 12 a 70 anos foram submetidas a um questionário com perguntas semi-estruturadas, o qual foi conduzido com apoio dos líderes locais e outros indivíduos influentes nas comunidades. Os dados foram analisados usando o pacote estatístico SPSS versão 11, usando os testes estatísticos t student e Chi quadrado. Comparando os resultados nos dois locais de estudo, foram encontrados no mangal da Costa do Sol níveis de indicadores de contaminação relativamente altos em relação aos da Ponta Rasa. As médias de indicadores de contaminação no mangal da Costa do Sol foram de 1776.6 para coliformes totais, 1687.7 para coliformes fecais e 509.4 para E. coli por 100ml respectivamente, ultrapassando assim os padrões máximos recomendados que são estimados em 200/100ml para coliformes totais e fecais e 126/100ml para E. coli quando a água é usada para actividades recreativas. Os altos níveis de indicadores de contaminação sugerem a ocorrência de bactérias patogénicas e, consequentemente um risco para a saúde pública. Na Costa do Sol, 18,2% dos indivíduos não possuem latrinas, dos quais 41,7% recorrem ao mangal para a defecação. Enquanto que na Ponta Rasa 86,7% não possuem latrinas e destes 6,1% usam o mangal para defecar. Nos dois locais a falta de água canalizada é evidente, na Costa do Sol 89,8% dos indivíduos questionados se usavam a água do mangal para alguma actividade doméstica 9,8% afirmaram que usavam e na Ponta Rasa 100% dos questionados não possuíam água canalizada e
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somente 1,8% usam a água do mangal para as actividades domésticas. Nos dois locais constatou se a existência de vectores e hospedeiros de doenças associados ao deposito do lixo no mangal, e ao fecalismo a céu aberto nas imediações do mangal. Os sintomas e doenças mais frequentes nos dois locais foram diarreias, infecções na pele e febres e outras doenças associadas ao saneamento fraco do meio ambiente. Os resultados indicam que, em particular na Costa do Sol há uma poluição fecal de origem humana confirmado pelos elevados níveis de indicadores de contaminação encontrados. A falta de água potável, de latrinas, o depósito inadequado do lixo e presença de hospedeiros e vectores de doenças têm implicações negativas na saúde das populações dos locais do estudo. Recomenda-se que futuras investigações sejam realizadas em todas as estações do ano com colheitas não só de amostras de água mas também estudos epidemiológicos nas zonas circunvizinhas e pesquisa de bactérias patogénicas e de outros agentes etiológicos