Práticas Tradicionais de Nutrição na Província de Cabo Delgado
Ano de publicação: 2016
A ideia de realizar o presente estudo surge a partir da altura que constatou-se que em Moçambique há muito esforço com vista a mitigação do problema da desnutrição, mas a desnutrição ainda prevalece nas Comunidades. De referir que trata-se de um fenómeno que não afecta intensivamente apenas Moçambique, mas sim toda região da África Subsaariana e Ásia. Neste contexto, o Ministério da Saúde, através do Instituto de Medicina Tradicional, em colaboração com o Departamento de Nutrição, DPS Cabo Delgado, Centro de Investigação de Saúde da Manhiça (CISM), Secretariado Técnico para a Segurança Alimentar (SETSAN) e Ministério da Indústria e Comércio (MIC), realizou um Estudo do âmbito Socioantropológico para captar as Percepções Socioculturais e práticas da Nutrição que podem constituir barreiras ou vantagens, para alimentar estratégias de intervenção comunitária baseadas numa abordagem sociocultural viável no âmbito de combate a desnutrição crónica. Referir que visitou-se outros Estudos socioculturais no âmbito da nutrição onde constatou-se uma exploração superficial da nutrição enquanto um fenómeno complexo e que havia necessidade de mergulhar mais ao fundo das percepções e estabelecer a correlação existente entre as diferentes práticas que de algum modo exercem influência para a prevalência de altos índices de desnutrição no país. Para o efeito, escolheu-se a província de Cabo Delgado como local de Estudo, pelo facto desta apresentar altos índices de baixo peso a nascença. Foram seleccionados três distritos, sendo Quissanga, Chiúre e Nangade; e Postos Administrativos de Bilibiza, Chiúre Velho e Ntamba respectivamente. O estudo decorreu de 3 a 17 de Novembro de 2014. Quanto a metodologia, é um estudo de carácter qualitativo que visa explorar as percepções que determinam as diferentes práticas de nutrição. Para a recolha de dados foram usadas as técnicas de discussão em grupo focal com Praticantes de Medicina Tradicional e Parteiras Tradicionais, Líderes Comunitários, Padrinhos e Madrinhas dos Ritos de Iniciação, Líderes Religiosos, professores, Mães de Crianças Menores de 5 anos, APES e outros Voluntários, Alunos/Estudantes, representantes de ONG's, Tias/os, avôs e sogras/os, Pais, Mulheres Grávidas Jovens e Adolescentes. Foram igualmente aplicadas entrevistas individuais com informantes-chave, tais como Directores Distritais e Provinciais (Saúde, Unidade Sanitária, Educação e Cultura, Indústria, Mulher e Acção Social e Comércio, Actividades Económicas). As discussões em grupos focais eram moderadas por facilitadores formados e em línguas locais (macua, maconde) e Português. Os dados simultaneamente manuscritos e gravados. As notas e cartões de memórias foram transcritos e
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analisados com recurso ao programa informático NVivo. Para melhor seguimento em termos de aplicação dos resultados do estudo, estiveram envolvidos na equipe de recolha de dados os técnicos provinciais e distritais de SMI, IMT, Nutrição, envolvimento comunitário e SETSAN. No estudo foram constatadas de forma generalizada barreiras culturas para o alcance de alimentação adequada, que são práticas alimentares que se fundam na tradição e que tem uma ligação com os aspectos de Género, Sexualidade, Religião (Islâmica) e Poder resultantes de um processo de Socialização. Também foram constatados alguns pontos positivos, o facto de a alimentação ser interpretada como útil a vida é um ponto forte que pode ser capitalizado no âmbito de combate a desnutrição