Avaliação epidemiológica dos casos de mordedura animal e factores associados a raiva em Moçambique, 2017-2021
Epidemiological evaluation of animal bite cases, rabies and associated factors in Mozambique, 2017-2021
Ano de publicação: 2023
Teses e dissertações em Português apresentado à Universidade eduardo Mondlane. Faculdade de Medicina para obtenção do título de Doutor. Orientador: Inlamea, osvaldo frederico
A mordedura por animal incluindo o cão é a principal forma de transmissão da raiva humana na África subsaariana, inclusive, Moçambique. Nos últimos anos tem-se registado um aumento de ocorrência de mordedura animal. Este estudo objetiva avaliar epidemiologia de mordedura animal e factores associados à raiva em Moçambique no período de 2017 a 2021.Realizou-se um estudo descritivo transversal de abordagem quantitativa. Foram usados dados secundários do sistema de vigilância da raiva em humano e animal. Calculou-se estatística descritiva, regressão logística multivariada, considerando um P ˂0,05 como significativo e um IC95%. O teste de Hosmer-Lemeshow foi usado para avaliar o ajuste do modelo final a um nível de significância de 0,05, através do programa estatístico IBM SPSS, versão 27. Durante o período de estudo, em média, foram registados 87,9 casos de mordedura animal por 100.000 habitantes (IC95%:86,8–89,0) com uma tendência. As províncias de Maputo Cidade 263,3 (IC95%:253,8–272,8), Sofála 222,3 (IC95%:216,3–228,3), Gaza 154,3 casos por 100.000 habitantes (IC95%:147,8–160,7) tiveram incidência acima da média nacional. Dos casos investigados, 42,4% (1831/4321) eram menores de 15 anos, 56,4% (2435/4321) foram masculinos, 77,6% (3454/4321) residiam em área urbana e 91,3% (3943/4321) foram mordidos por cão. Dos cães envolvidos, 85,4% (3368/3943) não estavam vacinados. Entre os casos investigados com critério, 50,0% (1874/3746) não tiveram profilaxia pós-exposição. As pessoas mordidas em Zambézia (ORa=91,3; IC95%:22,06–378,09; P˂0,001); Niassa (ORa=14,2; IC95%:10,13–19,96; P˂0,001) e Cabo Delgado (ORa =13,8; IC95%:8,34–22,69; P˂0,001) tiveram mais chances de não fazer profilaxia pós-exposição do que as pessoas mordidas em Maputo Província. Residir na área rural aumenta 70% vezes mais chance de não fazer profilaxia pós-exposição do que residir na área urbana (ORa=1,80; IC95%:1,50–2,18; P˂0,0001). No período de estudo, foram registados, em média, 187,7 casos de raiva humana por 100.000 pessoas mordidas (IC95%:134,9–240,6). A pessoa mordida em Niassa (ORa=12,1; IC95%:5,8-25,0; P˂0,001), ou Cabo Delgado (ORa=9,5; IC95%:4,0-22,6; P˂0,001), ou Zambézia (ORa=5,3; IC95%:2,6-10,8; P˂0,001) ou Inhambane (ORa=3,7; IC95%:1,5-8,8; P=0,004) tem mais chance para devolver raiva do que a pessoa mordida em Maputo Província. A raiva continua a ser um grave problema de saúde pública em Moçambique. Viver nas províncias de Niassa, Cabo Delgado, Zambézia e Inhambane diminui a chance para fazer a profilaxia pós-exposição em humano e aumenta o risco de desenvolver raiva após uma mordedura animal. Baixa cobertura vacinal dos animais. Recomenda-se melhorar a logística da distribuição das vacinas antirrábicas, priorizando as áreas de maior incidência de mordedura animal e raiva.